domingo, 10 de outubro de 2010

Para Refletir

Drummond dizia: "Sejamos pornográficos, docemente pornográficos"
(Parece que aceitaram exageradamente seu convite, e a coisa acabou em "grosseiramente pornográficos".

Vinicius de Moraes ou Rubem Braga dizeram em tom de elegia ipanemense:
Meus amigos, meus irmãos, sejamos delicados, urgentemente delicados.

"Elegia ao primeiro amigo" Vinicius de Moraes

Mato com delicadeza. Faço chorar delicadamente.
E me deleito. Inventei o carinho dos pés; minha alma.
Áspera de menino de ilha pousa com delicadeza sobre um corpo de adúltera.
Na verdade, sou um homem de muitas mulheres, e com todas delicado e atento.
Se me entediam, abandono-as delicadamente, despreendendo-me delas com uma doçura de água.
Se as quero, sou delicadíssimo; tudo em mim.
desprende esse fluido que as envolve de maneira irremissível.
Sou um meigo energúmeno. Até hoje só bati numa mulher
mas com singular delicadeza. Não sou bom
nem mau: sou delicado. Preciso ser delicado
porque dentro de mim mora um ser feroz e fratricida
como um lobo.

(Está aí:porque somos ferozes precisamos ser delicados. Os que não puderem ser puramente delicados, que o sejam ferozmente delicados.
Houve um tempo em que se era delicado. E. Rimbaud, que aos dezessete anos já tinha feito sua obra poética, é quem disse um dia: "Por delicadeza, eu perdi minha vida".
Intrigante isto.
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Tudo é questão de estilo.
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Vivemos numa época em que nos filmes americanos os amantes se amam violentamente, e em vez de sussurrarem "I love you" arremetem um virótico "Fuck you".
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Penso nos grandes delicados da história. Deveriam começar a fazer filmes, encenar peças sobre os memoráveis delicados. Vejam o Marechal Rondon. Militar e, no entanto, como se fora um místico oriental, cunhou aquela expressão que pautou o seu contato com os índios brasileiros: "Morrer se preciso for; matar, nunca".)

(Trecho da crônica "Tempo de delicadeza" - Affonso Romano de Sant´Anna)




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