Seis moscas me zumbem na cabeça e não me deixam dormir. Na verdade, o mosqueiro de minhas insônias é muito mais numeroso, mas digo seis para simplificar o caso. A seguir, descrevo algumas das angústias que à noite me atormentam. Como se verá, não são pouca coisa. Elas se referem, nada mais, nada menos, ao destino do mundo.
Ficará o mundo sem professores?
Segundo informou o jornal The Times of India, uma Escola do Crime está funcionando, com sucesso, na cidade de Muzaffarnagar, a oeste do estado hindu de Uttar Pradesh.
Ali se oferece aos adolescentes uma formação de alto nível para ganhar dinheiro fácil. Um dos três diretores, o educador Susheel Mooch, tem a seu cargo o curso mais sofisticado, que inclui, entre outras matérias, Sequestros, Extorsões e Execuções. Os outros dois se ocupam de matérias mais convencionais. Todos os cursos incluem trabalhos práticos. Por exemplo, o ensino do roubo em autopistas e estradas: ocultos, os estudantes arremessam um objeto metálico no automóvel escolhido; o ruído faz com que o condutor se detenha, intrigado, e então se procede ao assalto, que o mestre supervisiona.
Segundo os diretores, esta escola surgiu para dar resposta a uma necessidade do mercado e para cumprir uma função social. O mercado exige níveis cada vez mais altos de especialização na área do delito, e a educação criminosa é a única que garante aos jovens um trabalho bem remunerado e permanente.
Temo que tenham razão. E me dá pânico pensar que o exemplo vá frutificar na Índia e no mundo. O que será dos pobres professores das escolas tradicionais - pergunto-me-, já castigados pelos salários de fome e pela pouca ou nenhuma atenção que lhes prestam seus alunos? Quantos professores poderão reciclar-se, adaptando-se às exigências da modernidade? Dos que eu conheço, nenhum. Consta-me que são incapazes de matar uma mosca e não têm talento nem para assaltar uma velhinha desamparada e paralítica. O que esses inúteis vão ensinar no mundo de amanhã?
Eduardo Galeano - "O teatro do bem e do mal".
Coleção L&PM Pocket, vol. 293 - 2002, pp. 102-103
sábado, 1 de agosto de 2009
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