quinta-feira, 30 de julho de 2009

Sobre nós etc & tal. Prof Sirineu Rocha Filho (Parte VIII)

Quando pelas ruas de nossa cidade fazenda, o que mais vejo pelas vitrines das lojas que passo, são a carne humana pendurada, os braços cruzados dos vendedores, com o medo do desemprego expresso em seus olhares cansados. De tanto tempo de trabalho, tanto tempo, sem tempo para fazer dinheiro.
Leonardo Boff, faz um comentário: que em nossos dias, o mercado está celebrando mais sacrifícios humanos que os astecas em seu templo maior.
O produto das vitrines, se faz presente em uma quantidade muito grande. Portanto, o medo toma conta e, os salários cada vez são mais baixos, o poder de compra cada vez mais diminui.
A corrente começa a se formar, muita mão-de-obra, medo, desemprego, salários baixos, violência.
O direito do trabalho se reduz ao direito do quanto querem te pagar e nas condições que querem te impor. Atualmente, não existe no mundo mercadoria mais barata que a mão-de-obra. O medo toma conta de perder: perder o trabalho, perder o pouco do dinheiro necessário para sobreviver ao sul do Equador, perder a comida, perder a casa, não haverá exorcismo que nos salve da maldição do final do século.
Até os donos das lojas, os ganhadores, do nosso comércio local, poderão da noite para o dia, tornarse um perdedor, falido, um fracassado indigno do perdão do capital globalizado.
Quem se salvará do terror da desocupação?Quem não teme ser um náufrago das novas tecnologias? Um náufrago dos free-shops?
Qualquer um pode cair, em qualquer momento e em qualquer lugar. Em seus contratos a tecnologia não exige salários, nem férias, nem indenizações, nem 13º salários, nem salários desemprego etc.
Assim, como os mexicanos passam o rio bravo atrás de salários, os Uruguaios de nossa fronteira passam nossos marcos ao encontro de aluguel mais baixos, comida etc. E os nossos Brasileiros ricos dos whiskis e perfumes. É um verdadeiro carrocel, onde os cavalinhos do capitalismo são potros difíceis de ser domados.
Quem percorrer a fronteira urbana (Livramento/Rivera) de hoje fica muitas vezes surprendido com aspectos que se imagina existirem nos nossos dias unicamente em livros de história; e se atentar um pouco para eles, verá que traduzem fatos profundos e não são apenas reminiscências anacrônicas.
Na década de 60 e 70 o canal 10 de Rivera, era grande rede de comunicação, nesta época muitos dos da minha idade, aprenderam, sem querer a falar o espanhol. Porém, hoje, como a tempos atrás não adianta querer aprender uma das nossas duas línguas. Aqui exsitem um grande número de palavras que retratam um intercambio, de costumes maiores do que se pensa. Algukmas palavras, na ordem espanhol/portunhol/português: silla, sia, cadeira; oveja, ovêia, ovelha; vieja, véia, velha.
Assim, como as palavras, uma série de costumes, também se misturam, como: três beijos no cumprimento dos brasileiros e um beijo no costume uruguaio. Este fato, parece simples. No entanto, hoje, com a inversão das comunicações televisivas de outrora, atualmente é mais assistida a Globo pelos riverenses, e faz com que os uruguaios assimilassem mais os hábitos brasileiros, o inverso do que era em décadas passadas. Não só o fato dos beijos, mas é o começo para uma série de introdução a vícios de drogas, modificações morais e sociais, o sexo por exemplo e, até mesmo a AIDS.
Nos bairros Cuaró e Povo Novo, bairros de atividades operária, é justamente os bairros que residem o maior número de brasileiros em Rivera, e por incrível que pareça são os bairros onde existe umgrande consumo de drogas.
Neste terreno social, na maior parte dos exemplos, e no conjunto, em todo caso, atrás daquelas transformações que às vezes nos podem iludir, sente-se a presença de uma realidade já muito antiga que até nos admira de aí achar o nosso passado latifundário de exclusão social.
Ou quem sabe o futuro é diferente como o filme "EL baño del Papa", e a coisa toda se inverta.

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