quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sobre nós etc & tal. Prof Sirineu Rocha Filho (Parte V)

A nossa região, sustentada pela criação de gado, caracterizou-se pela concentração da propriedade e da renda, sendo o ciclo do charque responsável pela consolidação, ao longo da divisa com o Uruguai, de uma rede urbana evoluída dos antigos acampamentos militares, hoje com funções comerciais e administrativas.
Analisando os dados, este apresentou um contraste daquela histórica vocação da região, caracterizada pelo cultivo extensivo do solo, que sempre ocupou pouca mão-de-obra. DalMolin (94) ilustra a situação ao referir-se às necessidades de uma estância com 10mil cabeças de gado, que precisa de apenas um capataz e dez peões para manejá-la (só para ilustração, quem têm 10 mil cabeças de gado na fronteira?), justificando-se com tal prática a pouca contribuição desta atividade econômica no processo de formação de núcleos urbanos na região, esparsos e desarticulados entre si. Fora das sedes urbanas, os núcleos de povoamento são poucos, abrigam uma população reduzida e, principalmente um eleitorado mínimo, servindo sua escassez como fator negativo na formação de uma rede urbana mais densa no sul do RS.
Hoje, a estagnação sulista decorrente da crise produtiva do setor primário contrasta com os investimentos em infra-estrutura nas áreas industrializadas do Nordeste do Estado, acentuando o crescimento geograficamente concentrado, chamando a atenção para o agravamento de tensões causadas por um padrão de crescimento econômico espacial desigual (no Nordeste/Norte do RS nasceu o MST), reforçando o fato de que áreas dotadas com infra-estrutura atraem mais investimentos e aumentando as diferenças econômicas e estruturais entre Centro (Região Metropolitana de Porto Alegre) e a periferia (Região da Campanha).
A Campanha Gaúcha como um todo, apresentou fraco desempenho de produção apartir dos anos 40, principalmente a região compreendida por Alegrete, Bagé, Cacequi, Dom Pedrito, Quaraí, Rosário do Sul e a nossa Sant´Ana do Livramento, São Gabriel e Uruguaiana. Nestes municípios, os problemas enfrentados pela bovinocultura foram os mesmos de décadas anteriores:dificuldades dos produtores em manter os níveis de rentabilidade suficientes para competir com outras atividades pelo uso das terras de melhor qualidade e para competir em termos de custos com a mesma atividade desenvolvidas em outras áreas do país.
Depois das décadas da ditadura militar, da crise econômica, começada pela crise do petróleo e refletida numa crise de Estado, o renascimento da democratização na vida brasileira é acompanhada do ressurgimento de movimentos autonomistas, separatistas que visão a divisão do Estado.
Nos anos 90, surgiram os primeiros grupos separatistas gaúchos contemporâneos, entre eles o de maior repercussão, o "Movimento República do Pampa Gaúcho" cujo lider era Irton Marx. A imprensa nacional ou regional ao invés de tornar um debate esclarecedor, a respeito dos ideários do movimento, preferiu explorar a matéria sensacionalista da figura caricata de seu lider Irton Marx.
Para efeito, se sintetizarmos as propostas dos grupos separatistas, poderia parecer que o separatismo manifestaria traços arcaicos do regionalismo do sul de estado. Os panfletos da época do MRPG, expressavam ao passado gaúcho de equilíbrio fundiário, com a proposta ainda de o controle estatal sobre o capital industrial e o monopólio estatal sobre o capital financeiro, discursos e bandeiras que na verdade nada se parecem com os movimentos regionalistas euro-ocidental sérios da atualidade.
Principais grupos separatistas existentes no sul de 1994:
MRPG, Movimento República do Pampa Gaúcho (Santa Cruz do Sul, Novo Hamburgo, São Leopoldo),
Partido da República Farroupilha - PRF (Porto Alegre),
Movimento Pátria Livre (Porto Alegre),
Frente pela Autodeterminação do Sul (Santa Maria),
Movimento o Sul é o meu País (Curitiba).
As características da economia gaúcha, nos casos da pequena produção mercantil (sustentáculo de grandes agroindústrias exportadoras) e da empresa familiar (que tem realizado parcerias com grupos internacionais), tem contribuido para a redução dos eventuais efeitos desintegradores, sejam eles sociais ou econômicos.
Estas antigas formas de separatismo, estão fora da área de atuação desta linha de pensamento antigo que pertencia a Campanha, base de nascimento do movimento separatista do século passado.
O eleitorado, a classe econômica e a classe política (esta última por vez refortalece seu discurso de negociação), não estão inclinados a aderir à causa separatista, pois o regionalismo oficial ainda tem demonstardo vigor no encaminhamento de reivindicações regionais junto às instituições federais.

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