terça-feira, 13 de outubro de 2009

Derrubando PAREDES e preconceitos (para refletir)

"Será indispensável alterar a organização das escolas, interrogar práticas educativas dominantes. É urgente interferir humanamente no íntimo das comunidades humanas, questionar convicções e, fraternalmente, incomodar os acomodados."

"Era um espaço capacitado para reproduzir desigualdade e infelicidade."

"Os professores, encerrados no refúgio da sua sala, a sós com os seus manuais uniformizados, a sua falsa competência multidisciplinar, repetiam passivamente as lições."

"As crianças que chegavam à escola com uma cultura diferente da que ali prevalecia eram desfavorecidas pelo não reconhecimento da sua experiência sociocultural.
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O resultado eram alunos desajustados que colocavam em prática a tradição da escola:mandar
os professores para o hospital. É claro que eles exigiam de nós uma atitude de grande atenção e investimento no domínio afetivo e emocional. E isso, a escola tradicional, cheia de regras impostas, não permitia."

"Os grandes projetos partem de pequenos gestos."

Derrubando paredes e preconceitos II

Quais foram suas primeiras ações no processo da mudança ocorrida na Ponte?
Todo processo de transformação começa com o professor. A escola só muda quando os professores trabalham em conjunto, se envolvem com a vida escolar e com as cianças. A profissão de professor não é um ato solitário. È um ato solidário, em que ele, ao mesmo tempo, ensina e aprende com as crianças novos jeitos de se relacionar e de ensinar. A meu ver, não há dificuldade de aprendizagem. Há é "dificuldade de ensinagem". As crianças são curiosas e aprendem naturalmente, basta dar oportunidade, liberdade e não atrapalhar. Outro desafio foi mudar a postura dos alunos,acostumados a serem receptores. No novo esquema, eles passaram a discutir os problemas em assembleias, sugerir mudanças e participar das transformações. Assim as paredes das classes foram derrubadas, crianças passaram a decidir o que e com quem estudar. Em vez de classes, grupos de estudo. independentemente da idade, o que as une é a vontade de estar juntas e de juntas aprender.

O que foi mantido da estrutura tradicional de uma escola na Escola da Ponte?
Somente restam vestígos da estrutura antiga, sobre a qual assentamos os andaimes de uma nova escola. Após uma primeira fase - chamada de "iniciação" - as crianças convivem e aprendem nos mesmos espaços, sem consideração pela faixa etária, mas apenas pela vontade de estar no mesmo grupo. O critério de formação dos grupos é o afetivo.

Depois que saem da Ponte, os alunos continuam os estudos? Como atuam na vida profissional?
Existem pesquisas sobre isso, mas os dados ainda não estão tabulados. Mesmo assim, posso afirmar que os ex-alunos são hoje, em grande parte, os pais dos atuais alunos da Ponte. Suas histórias de vida são, na sua maioria, de sucesso, realização pessoal e social, observando-se em muitos uma participação cívica bem acima do comum.
Hoje, a Ponte é uma escola da 1ª à 9ª série, mas, durante 25 anos, foi uma escola até a 4ª série. Os alunos que, ano após ano, saíam para a 5ª série revelaram sempre grande capacidade de adaptação à nova realidade. Conseguiam ser solidários, mas aceitavam as regras da competividade que eram impostas pela cultura da escola para onde transitavam. Sabiam trabalhar em grupo, pesquisar e autoavaliar-se, mas acatavam o ritmo dos toques de campainha, a aplicação de testes iguais para todos, o regime de turma e classe, etc...
Em 2003, o Ministério da Educação de Portugal encomedou a uma equipe da Universidade de Coimbra uma avaliação da Escola da Ponte e que concluiu que os ex-alunos da Ponte ob tiveram melhores resultados no currículo de 5ª série que os ex-alunos de outras escolas.
Mas essa constatação - que para os governantes foi decisiva para o apoio que agora disponibilizam ao projeto - não tem para nós nenhum significado. A classificação não é o mais imortante.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Derrubando paredes e preconceitos I

Entrevista José Pacheco Revista Professor Sassá especial Ano II Nº 11 Outubro 2009 págs 6 à 10.

Uma escola sem salas de aula, sem turmas divididas por faixa etária, onde cada criança decide o que e com quem estudar e aprende a conviver com os colegas e professores num clima de respeito, solidariedade e liberdade. Essa escola dos sonhos existe há 30 anos e inspira novas experiências no mundo todo.

Desde 1976, a ousadia do engenheiro e educador José Pacheco em pôr em prática uma nova organização de escola deu início à famosa Escola da Ponte, na cidade portuguesa de Vila das Aves. "Foi uma certa vingança pelas violências que eu mesmo passei na escola quando pequeno. Não queria que nehuma criança tivesse que passar mais por coisas semelhantes", lembra o professor Pacheco.
Quem ouve falar pela primeira vez da experiência portuguesa, hesita em acreditar. Surpresa maior só mesmo de quem a conheceu nos anos 70.
Aqui, o professor Zé da Ponte, como gosta de ser chamado, conta a sua experiência transformadora.

Como o senhor encontrou a escola da Ponte em 76?
A Escola da Ponte era um espaço malcuidado, mais da metade dos alunos da 1ª à 8ª série não sabia ler e todos iam para as aulas sujos, bêbados e prostituídos. Era um espaço capacitado para reproduzir desigualdade e infelicidade.
Coisas básicas, como satisfazer as necessidade biológicas mais elementares, constituíam uma experiência humilhante:os banheiros não tinham portas e as alunas iam lá fora em frupos de cinco, ou seis, para fazerem um círculo humano em torno da necessitada, numa lição de solidariedade. Os professores, encerrados no refúgio da sua sala, a sós com seus alunos, o seu método, os seus manuais uniformizados, a sua falsa competência multidisciplinar, repetiam passivamente as lições.
As crianças que chegavam à escola com uma cultura diferente da que ali prevalecia eram desfavorecidas pelo não reconhecimento da sua experiência sociocultural. Algumas transferiam para a vida escolar os problemas sociais dos bairros pobres onde viviam. O resultado era alunos desajustados que colocavam em prática a tradição da escola: mandar os professores para o hospital. È claro que eles exigiam de nós uma atitude de grande atenção e investimento no domínio afetivo e emocional. E isso, a escola tradicional, cheia de regras impostas, não permitia.
Podemos dizer que a solidariedade entre os alunos deslanchou o processo?
Sem dúvida. Haverá mais solidariedade que assegurar a necessária intimidade à colega que precisa ir ao banheiro? Os grandes projetos partem de pequenos gestos. E só professores que não se questionam poderiam consentir que as crianças continuassem a viver num cotidiano escolar que roçava o limiar da sobreviência. Quando ficou garantido o conforto dos corpos, o reconforto das alams veio por acréscimo. O projeto cresceu, prosperou, sofreu ataques que visavam destruí-lo, mas resistiu e consolidou-se.
O projeto da Escola da Ponte é um projeto eclético?
De certo modo, por adotar contribuições de diferentes origens, modelos, autores e correntes...
É nossa convicção que um projeto só poderá encontrar sentido e sustentabilidade se for escorado numa permanente interrogação das suas práticas e escapar à vertigem de fundamentalismos pedagógicos. Rejeitamos as teorias, propostas metodológicas, os modelos, os modismos, por mais bem embrulhados e recomendados que cheguem até nós, se não fizerem sentido. É só isso: antes de adotar qualquer conceito, já cristalizado ou inovador, o analisamos com sensibilidade e bom senso.
Como esse conceito muda o dia a dia da escola?
Como disse, é uma questão de bom senso. Ninguém conseguiu, até hoje, explicar a necessidade da divisão das classes e, por isso, nós a eliminamos. Fizemos uma ruptura quase total com a tradicional organização do trabalho escolar. Mas se o "tradicional" traz bons resultados em outras escolas, tudo bem. Aliás, não dispensamos algumas das suas contribuições. Nem nos deixamos deslumbrara pelas "soluções" encontradas. Apesar de as histórias de vida dos ex-alunos serem feitas de realização pessoal e de excelentes desempenhos acadêmicos nas escolas para onde transitaram, mesmo com tudo o que foi construído ao longo de quase três décadas, estamos sempre animados com o "brilho dos inícios"...
Nessa mudança organizacional, quais foram os objetivos principais? concretizar uma efetiva diversificação das aprendizagens, tendo por referência uma política de direitos humanos que garantisse as mesmas oportunidades educacionais e de realização pessoal para todos; promovera autonomia e a solidariedade; intensificar a cooperação. E, pelo caminho, encontramos amigos e companheiros (ainda que já desaparecidos como Paulo Freire, Piaget, Dewey, Montessori, Ferrer, Neil, Carl Rogers, Vigotsky, Stenhouse, Agostinho da Silva, Rudolph Steiner, Freinet, e muitos outros) que nos guiaram com segurança.

Mecanismos que ajudam a convivência saudável e produtiva. Escola da Ponte II

Caixinha dos segredos:local destinado ao desabafo das crianças, que ali depositam seus segredos,que,muitas vezes,revelam as razões da chamada indisciplina.
Caixinha dos textos inventados:para receber as criações textuais imaginativas dos pequenos.
Eu já sei:faz parte do objetivo de desenvolver a autonomia dos alunos, aprtindo do processo de autoavaliação.Quando a criança está habilitada, escreve seu nome numa lista, informando que já considera que aprendeu e está pronta para ser avaliada por um professor. Só então essa avaliação se processa.
Eu preciso de ajuda: a criança é estimulada a buscar todas as fontes possíveis de informação que estão a seu alcance antes de pedir ajuda. Esgotadas suas possibilidades, o aluno pode escrever seu nome numa das listas dispostas em diversos locais da escola. Posteriormente, um professor organiza pequenos grupos de estudo para esclarecer o assunto com quem tem dúvidas.
Professor tutor: ele acompanha de perto um grupo de oito a onze alunos, os quais monitora o trabalho individualmente e faz reuniões sistemáticas duas vezes por semana, mantendo também um contato estreito com os encarregados de educação.
Grupos de responsabilidade:cada aluno e a maioria dos orientadores educativos são responsáveis por algum aspecto do funcionamento da escola. Os grupos reúnem-se quinzenalmente para tomada de decisão. Algumas das responsabilidades atribuídas aos grupos são:assembleia e comissão de ajuda;cuidados com om terrário e jardim; clube dos limpinhos; refeitório; arrumação e material comum; clube do silêncio e ajuda dos direitos e deveres; jornal; jogos e vídeo; computadores e música; desporto escolar; recreio bom; murais; mapas de presença e datas de aniversário; correio da ponte; cabides e guarda-chuvas.

domingo, 11 de outubro de 2009

Mecanismos que ajudam a convivência saudável e produtiva. Escola da Ponte

Para a escola ser um ambiente de aprendizado agradável, exige a participação de todos. Para isso, a Ponte incentiva os seguintes mecanismos:
Assembleias: de alunos e professores.
Lista dos direitos e deveres:aprovadas sempre por consenso.
Comissão de ajuda:formada por quatro alunos nomeados, para resolver os problemas mais graves colocados na assembleia.
Debate:de caráter mais informal que as assembleias, acontece diariamente e dura 30 minutos.
Biblioteca:ocupa o espaço comum, da área aberta da escola, e serve como espaço de encontro e de pesquisa.

sábado, 1 de agosto de 2009

Folclore - Guia de Estudos

Folclore - Guia de Estudos
Gilnei Neves Nepomuceno

INTRODUÇÃO
Todo e qualquer ser humano tem cultura. A cultura vai se formando nas relações e experiências que mantemos com o mundo desde que nascemos. Alguns fatores que agem diretamente ou indiretamente na construção da cultura individual são: família, grupos sociais a que pertencemos, o conhecimento que adquirimos da cultura científica, tecnológica, artística, literária, etc; religião, meio ambiente, lembranças do passado, trabalho, estudo, o sistema político, contexto econômico, além de outros.
O fato é que esses fatores nunca agem isoladamente. Eles dependem uns dos outros, convivem e formam uma rede de relações na qual somos inseridos. Ao mesmo tempo em que recebemos a herança cultural, agimos e produzimos cultura de forma que nos tornamos co-participantes dessa rede. Dessa teia de relações extraímos os valores em que acreditamos, como solidariedade, afeto, respeito, violência. Esse conjunto de valores transmitidos por nosso grupo social é sua identidade.
O Brasil apresenta grande diversidade no campo cultural. Seu folclore é riquíssimo. Nesse contexto entram, entre outros, as festas religiosas, o artesanato e a medicina popular, danças, canções e os "causos" contados pelo Brasil afora.
O Brasil não é só o país do futebol e do carnaval. Isso seria restringir demais nossa capacidade de enxergar e expressar o mundo em que vivemos. O Folclore é uma das formas de representar e expressar a identidade de uma comunidade e através da interação com esse tipo de conhecimento ampliamos e enriquecemos mais o nosso próprio.
Dentro do vasto campo do folclore, encontram-se as lendas, passadas de geração em geração e que precisam ser cultivadas para que não se percam. São histórias representativas do imaginário de comunidades diversas. Entrar no campo das lendas é viajar pela história humana tomando outro tipo de condução. É sair de nosso mundo e conhecer o do outro através da pluralidade cultural, para entender e ampliar horizontes anteriormente não imaginados. É poder sentar e contar uma história que tem um pouco de cada um que já a tenha contado. É poder levar a criança e ao jovem a possibilidade de crescer com uma atividade culturalmente enriquecedora.
Pretendemos, a partir desse estudo, propiciar um guia de estudo e exploração do tema folclore, nos níveis de educação Fundamental, como também Educação Infantil e Ensino Médio.
Além da parte didática, elaboramos também sugestões de atividades que podem ser aproveitadas pelos professores. As referidas sugestões, para facilitar o trabalho, serão expostas por série de ensino, porém, isso não impede que o professor possa utilizá-las em todas as série, usando da adaptação contextual.
DESENVOLVIMENTO
FOLCLORE - ASPECTOS HISTÓRICOS
O folclore, ciência considerada indispensável para o conhecimento social e psicológico de um povo, deve seu nome ao arqueólogo inglês William John Thoms, que no dia 22 de agosto de 1846 empregou pela primeira vez a palavra folk-lore, composta de dois vocábulos saxônicos antigos: folk, significando povo, e lore, que quer dizer conhecimento ou ciência. Portanto, o folclore pode ser definido como a ciência que estuda todas as manifestações do saber popular.
No Brasil, após a reforma ortográfica de 1934, que eliminou a letra k, a palavra perdeu também o hífen e tornou-se folclore.
O folclore é encontrado na literatura sob a forma de poemas, lendas, contos, provérbios e canções, assim como nos costumes tradicionais como danças, jogos, crendices e supertições. Verifica-se também sua existência nas artes e nas mais diversas manifestações da atividade humana.
Segundo a Carta do Folclore Brasileiro, aprovada pelo I Congresso Brasileiro de Folclore em 1951, "constituem fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular, ou pela imitação, e que não sejam diretamente influenciadas pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam ou à renovação do patrimônio científico e artístico humano ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica".
ORIGENS PRINCIPAIS
As Origens do folclore brasileiro prendem-se à formação de seu povo. Três elementos básicos - o índio, o branco e o negro - aqui se misturam, fundindo numa só as diferentes culturas.
MANIFESTAÇÕES FOLCLÓRICAS
SABEDORIA POPULAR
São as diversas manifestações da ciência do povo. Seu conhecimento sobre o universo, o homem, os fenômenos naturais relacionados com a vida cotidiana. Por exemplo: a época do plantio de determinadas plantas de acordo com as fases da lua, a medicina rústica, a mistura "perigosa" de certos alimentos, etc.
ARTES FOLCLÓRICAS
São as manifestações de criatividade artística do gosto popular. Na maioria dos casos trata-se de trabalhos anônimos, repetidos inúmeras vezes, copiados e adaptados ao sabor das conveniências e da inspiração do momento. Exemplos:
Na linguagem e na literatura: Apelidos, parlendas, adivinhas, poesias, trovas, desafios, trava-línguas, romances, literatura de cordel, acrósticos, correio elegante, etc. No Teatro: Autos e representações diversas, mamulengos, casamento das festas juninas, embaixadas das congadas, cavalhadas, etc. Na música: Cantigas de roda, modinhas, cantigas de trabalho, dorme-nenês, asssim como os instrumentos musicais: cuíca, berimbau, viola, pífaro, caxambu, marimbau, candongueiro, etc. Nas artes plásticas: Pintura, escultura, cerâmica, gravação em ouro, madeira, metal, ex-votos, etc. Na dança: Frevo, maracatu, maxixe, dança de S. Gonçalo, assim como os folguedos populares: Congada, Caiapó, Folia de Reis, etc.
MANIFESTAÇÕES DE RELIGIOSIDADE
São as formas rituais de cultuar os santos protetores e afastar os espíritos maléficos. Além de práticas diversas (festas religiosas, candomblés, umbanda), encontram-se os mitos e lendas (saci-pererê, lobisomem, mula-sem-cabeça), crendices, superstições, benzeções, mau-olhado, tabus, etc.
OFÍCIOS E TÉCNICAS: Manifestações relativas às várias profissões e aos sistemas de produção, troca e transformações dos produtos. Ex.: cuidados com a boiada, modo de cultivar a roça, técnicas artesanais para bordados, tapeçarias, fabrico de rendas, etc.
ALIMENTAÇÃO: Comidas e temperos típicos, receitas dietéticas, bebidas, chás. Ex.: vatapá, acarajé, cuscuz, feijoada, batidas, etc.
TRAJE: Roupas típicas da região ou de determinada profissão ou festa. Ex.: Xiripaia gaúcha, roupas das baianas, trajes dos dançadores de congadas, maculelê, maracatu. Caiapós, etc.
DIREÇÃO DO LAR: Modo de construir a casa (palafitas, pau-a-pique, adobe) e anexos (monjolos, moinhos, galinheiros), assim como o mobiliário, panelas, amassadeira São as diversas manifestações da ciência do povo. Seu conhecimento sobre o universo, o homem, os fenômenos naturais relacionados com a vida cotidiana. Por exemplo: a época do plantio de determinadas plantas de acordo com as fases da lua, a medicina rústica, a mistura "perigosa" de certos alimentos, etc.s, ferro de brasa, etc.
VIDA SOCIAL: Modo de se relacionar com as pessoas, sobretudo vizinhos. Relações de parentesco, apadrinhamento, maneira de receber os convidados em casa, festas de casamento, batizados, etc.
MANIFESTAÇÕES DE ORIGEM INDÍGENA
Fábulas e contos cujos heróis são bichos de nossas matas.
Mitos como o Boitatá, o Curupira, o Sací-pererê, a Iara
Danças com instrumentos musicais característicos: buzinas, chocalhos, maracás.
Artesanato: redes, trançados, utensílios de palha, madeira, barro e arte plumária. A arte de trançar é encontrada em todos os povos primitivos. Vários tipos de cestas e peneiras eram feitos pelos ameríndios, sendo portanto conhecidos os trançados por diversas tribos brasileiras. Certamente os cesteiros atuais herdaram técnicas de nossos indígenas, além de receberem influências lusas e africanas.
Influência nos hábitos: dormir em rede, tomar banhos freqüentes e na alimentação.
...principalmente com os índios tupi destacando dois elementos nativos que passariam a integrar a dieta do brasileiro: a mandioca e o palmito.
Nos primeiros tempos da colonização brasileira, Hans Staden mencionava a farinha de mandioca, peixe e carne preparados com pimenta vermelha, o mel silvestre e uma bebida extraída do aipim, e Jean de Lery referia-se ao uso do milho para fazer farinha, da pimenta pilada no sal obtido da água do mar e das pacovas, bananas da terra. Outros cronistas documentaram o uso do amendoim, castanhas de caju, milho assado com carne, feijão de todos os tipos, cará, rãs, caranguejos, do marisco sururu e das marmeladas de banana.
MANIFESTAÇÕES DE ORIGEM PORTUGUESA
A base cultural: Contos populares da literatura universal. As festas e folguedos, na maioria de cunho religioso: reisados, pastoris, cheganças, coroação do divino.
Devoções populares: festejos de maio, festas juninas e natalinas. Artesanato: as rendas, os bordados, as pinturas. A música, a dança, os autos religiosos, o carnaval.
DANÇAS: As danças no brasil, salvo as indígenas e aquelas trazidas pelos negros, são
quase todas adaptações das danças européias, cuja forma geral foi folclorizada, ou então receberam empréstimos de movimentos, passos e figurações, como a polca, a valsa, quadrilha, mazurcas, etc.
As principais danças de origem ibérica (Portugal e Espanha) no Brasil, sem contar as religiosas, como a de São Gonçalo, e as Folias de reis e do Divino, são as danças do Fandango.
Festas de Verão As principais são: Natal, Reis e carnaval
Festas de Inverno As principais são: Divino Espírito Santo, Corpus Christi e Juninas
MANIFESTAÇÕES DE ORIGEM AFRICANA
Tendência a misturar crenças religiosas, rituais característicos: candomblé, macumba, umbanda.
Cultos às divindades de origem africana, identificados por forças das circunstâncias aos santos da religião católica: Iemanjá, Ogum, Oxalá, Iansã e outros.
A música característica, onde sobressaem o batuque, o samba, ao lado de instrumentos típicos, sobretudo os de percussão.
A alimentação especial, muito codimentada, com destaque especial para as delícias da cozinha baiana: vatapá, acarajé, cururu, quindim, etc., assim como as bebidas e os temperos.
MANIFESTAÇÕES DE INFLUÊNCIAS ESTRANGEIRAS
FRANCESES
O povo francês esteve no Brasil no século XVI, fundando uma "França Antártica" no Rio de Janeiro, uma "Nouvelle France" em Pernambuco, e no século XVII uma "França Equinoxial" no Maranhão. Não se pode esquecer também a influência francesa na cultura medieval e na literatura portuguesa. A novelística no Brasil, naquilo que se pode chamar "livro do povo" e que representa o encanto da autenticidade folclórica, é de proveniência gaulesa. Ex.: O Imperador Carlos Magno e os 12 pares de frança, Roberto o diabo, etc. Nas cantigas de roda também percebemos elementos franceses nas letras do cancioneiro infantil: Onde está a Margarida, Lá na Ponte da Vinhaça, etc.
JUDEUS
A história do Brasil está repleta da presença dos judeus, desde o arredamento de terras ao judeu Fernando de Noronha, ao negócio do pau-brasil ou dos empréstimos em dinheiro à Coroa Portuguesa. Muitos israelitas chegaram ao Brasil no período da Invasão Holandesa, fugindo dos tribunais de Inquisição nos países dominados pelos espanhóis. O primeiro poeta brasileiro foi um judeu: Bento Teixeira Pinto. As maiores influências judaicas que tivemos são: o conformismo com o destino, o saudosismo messiânico e o "pão-durismo" do mineiro.
ESPANHÓIS
Portugal permaneceu sob a tutela da Espanha durante mais de meio século (1580-1640), embora a administração do Brasil permanecesse inteiramente portuguesa. Nas áreas de fronteiras, essas influências operaram em larga escala, como podemos observar nas danças e na indumentária folclórica gaúcha, que lembram o "flamenco" espanhol e as roupas da Andaluzia. Houve ainda grande imigração até os nossos dias. A cavalhada, folguedo, esporte e auto popular são evidentemente de conteúdo ibérico.
ÁRABES
Seus costumes chegaram ao Brasil indiretamente, através da cultura luso-espanhola, herdeira do legado islâmico, pois a Península Ibérica foi dominada pelos mouros durante quase 700 anos; e diretamente pela transferência, da África para o nosso país, de escravos islamizados. Contribuíram com o uso do cachimbo nos rituais de candonblé, na reclusão da mulher no período colonial, nas lendas, como a "Moura Torta", nas parlendas, contos acumulativos, folguedos e na veneração do cavalo, pelo gaúcho, etc.
INGLESES e HOLANDESES
Sua influência é devida às invasões no período colonial, assim como o comércio com o Brasil. Os primeiros nos legaram alguns termos como o "bond" que de título da dívida pública passou a designar veículo de tração animal e elétrica; troxeram também o futebol, esporte preferido pela população. Os últimos deixaram sua influência na literatura de cordel, nas blasfêmias no folclore do açúcar, em elementos de confeitaria e laticínios.
ALEMÃES
Vieram com D. Leopoldina, quando ela se casou com D. Pedro I, formando a primeira colônia germânica na região fluminense, que deu origem à cidade de Nova Friburgo. Em 1824 vieram grandes levas para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, cujos costumes e habitações podemos observar em cidades como Blumenau e Gramado. No folclore eles contribuíram com: a árvore de Natal, as bandas de música, as festas de cerveja, superstições, crendices, tabus, etc.
ITALIANOS
Também aportaram no Brasil por razões históricas, com o casamento de D. Pedro II com a napolitana Tereza Cristina. Vieram para substituir a mão-de-obra escrava, que estava desaparecendo devido às leis para a abolição da escravatura. São Paulo e os Estados do Sul, principalmente Paraná e Rio Grande, foram os principais centros desta aculturação, destacando-se também o Sul de Minas e as diversas zonas cafeeiras. De influência italiana notamos: as festas de igreja, comilança de Natal, presépios, massas como macarronada e pizzas, vinhos gaúchos, figas, capelinhas e cruzeiros à beira das estradas, procissões, ex-votos, etc.
SÍRIOS e JAPONESES
Trouxeram recentemente várias contribuições, que vêm sendo introduzidas na cultura popular. Os primeiros influenciaram em alimentos, como o quibe, a sfiha, o tabule, iogurte, etc, assim como a esperteza no negócios; enquanto os nipônicos nos legaram o folclore das flores, dos frutos, da morte, e ainda o "suchi" e "sachimi", pratos muito apreciados hoje em dia, além das artes marciais.
NORTE-AMERICANOS
Atualmente, devido à intensa propaganda através dos meios de comunicação, que atingem as mais longínquas regiões brasileiras, a influência norte-americana aparece não somente na música da juventude, como também na alimentação, através dos sanduiches, principalmente hambugeres e cachorros-quentes e da coca-cola. O "jeans" é atualmente usado por todas as camadas da sociedade, inclusive pelos trabalhadores rurais e habitantes das cidades do interior.
ADIVINHAÇÕES
É insuperável a dificuldade de investigar a origem das adivinhações brasileiras. Têm por objetivo levar a criança a reconhecer, através de uma definição divertida, um sentido oculto (O que se adivinha). Nas adivinhações, vamos encontrar o mecanismo da formação das idéias e dos conceitos formulados por analogia, antinomia ou assimilação, evidenciando o formidável poder da definição que possui o nosso povo.
- Em casa está calado,No mato está cantando. (machado)- Nasce no mato,Na mata se cria,Só dá uma cria. (bananeira)- Tem asa e não voa,Bico e não belisca,Anda e não tem pé. (bule)- Quatro na lama,Quatro na cama,Dois parafusos,E um que abana. (vaca)
- Verde como folha,Encarnado como sangue,Doce como mel,Amargo como fel. (café)- Tem dente mas não come,Tem barba mas não é homem. (alho)- Cai da torre,Não se lasca,Cai na água,Se espedaça. (papel)- D'água nasce,Na água cresce,Se botar n'água,Desaparece. (sal)- Uma bola, bem feitaDe bom parecer,Não há carpinteiro,Que saiba fazer. (lua)- Do tamanho de uma bola,Enche a casa até a porta. (lâmpada)- Quando estamos em pé,Ele está deitado,Quando estamos deitados,Ele está em pé. (pé)
DITADOS POPULARES
Em casa de enforcado não se fala em corda.
Quem não tem cão caça com gato.
Macaco velho não coloca a mão em cumbuca.
Quem senta na garupa não pega na rédea.
Pior cego é o que não quer ver.
As aparências enganam.
Em pé de pobre todo sapato serve.
Em terra de cego quem tem olho é rei.
Quem diz o que quer ouve o que não quer.
Por fora bela viola por dentro pão bolorento.
Gaiola bonita não alimenta o canário.
Quem compra o que não pode vende o que não quer.
Em boca fechada não entra mosca.
Quem tira retrato de graça é espelho.
Mais vale um hoje do que dois amanhãs.
TROVAS POPULARES
Fui pro mar colher laranja,Fruta que no mar não tem:Vim de lá todo molhadoDas ondas que vão e vem.Não tenho medo de homemNem do ronco que ele tem;O besouro também ronca,Vai se ver não é ninguém.Você diz que sabe muito,Borboleta sabe mais:Anda de perna pra cima,Coisa que você não faz.Todo mundo se admiraDe macaco andar a pé,O macaco já foi homem,Pode andar como quiser.Se me vires não te assustes,Se te assustares não corras,Se correres não te assombres,Se te assombrares não morras.Quem me dera ter agora Um cavalinho de vento,Para dar um galopinhoAonde esta o meu pensamento.Você me chamou de feio,Sou feio mas sou dengoso,Também o tempero é feioMas faz o prato gostoso.Juraste, jurei, juramos;juramos, jurei, juraste;quebraste, quebrei, quebramos;quebramos, quebrei, quebraste.Não sei se vá ou se fique,Não sei se fique ou se vá,Indo lá não fico aqui,Ficando aqui não vou lá.
Essa noite tive um sonhoQue não me sai da lembrança,Sonhei que vi a saudadeAbraçada com a esperança
CONHECIMENTOS E SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Ensino Fundamental - seguimento de 1ª à 4ª séries
CAVALHADAS - o folclore pode nos ajudar a conhecer e compreender o local onde vivemos, assim como ampliar nosso olhar para outros mundos.
A história desse festejo nos remete a tempos remotos onde Mouros e Cristãos se enfrentavam, e isso nos sugere o brincar com jogos de competição. Jogar dentro desse contexto se torna, além de divertido, propor conhecimentos sobre tais povos e sobre o próprio festejo.
Brincar, correr, jogar, vencer, perder, são palavras presentes no universo das crianças. É no jogo que se aprende a trabalhar em equipe, a criar e respeitar regras, desenvolver-se motora e cognitivamente.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES (usar a interdisciplinaridade):
Investigar sobre a história das cavalhadas.
Utilizar formas de escolha para criação das equipes.
Criar bandeiras, flâmulas e/ou estandartes de cada equipe.
Vivenciar os jogos descritos nas cavalhadas.
Confecção de armas e adereços com; JORNAL, PAPELÃO, ETC.
RECEITAS E ALQUIMIAS - quem foi que disse que a cozinha não é um grande laboratório de invenções e descobertas? Vamos refletir sobre isso?
A partir da culinária podemos decifrar o mundo que nos cerca. Descobrimos medidas, proporções, sabores, eventos, épocas, desejos e necessidades e, nada é mais fascinante do que experimentar, manusear, produzir e perceber resultados, por vezes imediatos, por outras mais tardios, porém, nem tão demorado que não se possa presenciar.
Do micro para o macro, partiremos deste pequeno universo para descobrir tudo, ou o que se pode alcançar, tendo como mapa as receitas do nosso Brasil afora, como meio de transporte o fogão, seja à lenha ou à gás, e como bagagem o que nele preparamos. Sejam bem vindos a essa viajem!
SUGESTÕES DE ATIVIDADES (usar a interdisciplinaridade):
Visita ao mercado local para levantamento de produtos alimentícios e seus custos.
Seguir a receita de um prato típico do Brasil.
CONTOS E ENCANTAMENTOS - fazendo-se passar por tantos personagens capazes de morrer, ressuscitar, governar, voar, virar monstro, príncipe e princesa, a criança vai descobrindo cada vez mais a magia de viver.
Os contos de encantamento serão um caminho de acesso, não somente ao mundo da fantasia, presente na criança, mas também aos meios de comunicação, como o teatro e a televisão, bem como ao próprio livro. Neles estará presente todo o repertório de sentimentos e emoções carregado pelas crianças: medo, perda, morte, vida, poder, submissão, vingança, etc.
É a literatura contribuindo para a construção do universo interno e externo, de maneira lúdica e transparente, tal qual a criança.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES (usar a interdisciplinaridade)
Descobrir nos personagens universais (fada, bruxa, gnomos, dragões,...) similaridades com os personagens do folclore brasileiro. Por exemplo: cuca = bruxa, urubu = corvo, curupira = Robin Hood.
Produzir contos a partir de um conjunto proposto de palavras. Exemplo: era uma vez um lobisomem..., e aos poucos, introduzir novas palavras na história (mula-sem-cabeça, cavalo alado, etc).
Pesquisar os contos de encantamento tradicionais no Brasil.
Onde podemos encontrar os livros? Visitando, manipulando e conhecendo a Biblioteca da escola e da cidade.
Representar os contos ouvidos em sala de aula.
CESTARIA E RENDADO - por que o artesanato das rendas se concentram no nordeste do país? Qual a matéria prima utilizada?
Ofício, essencialmente feminino, as rendas se tornaram conhecidas de norte a sul do Brasil, mostrando a arte, beleza, habilidade e destreza manual. Por outro lado, embora possamos atribuir as mesmas qualidades às cestarias, a sua confecção é feita por homens, mulheres e até mesmo por crianças.
As cestarias já eram confeccionadas por comunidades indígenas antes mesmo da chegada dos colonizadores.
Enquanto objetos artesanais incorporados à nossa cultura, podem nos remeter à época, momentos e lugares que muito tem a dizer sobre folclore.
Porém, o que se pode observar com a produção industrial é que o trabalho do artesão fica cada vez mais distante de nós e, muitas vezes, desvalorizado. Nos vemos aqui como responsáveis pela valorização e manutenção desta prática.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES (usar a interdisciplinaridade)
Confecção de rendas (se possível) e cestos de papel.
Pesquisar a origem e como são feitas as rendas.
Procurar na comunidade algum artesão e levá-lo para uma amostra prática em sala de aula.
Fazer levantamento de que outros artesanatos são utilizados como utensílios.
BRINCADEIRAS DE CORDA - a corda aparece como elemento lúdico, abrindo possibilidade de jogos e brincadeiras que levam o jogador à aprendizagem.
Pular corda não é coisa fácil. É necessário muita habilidade para vencer todas as etapas propostas pelo jogo que exige agilidade e destreza corporal.
Além de pular, a corda oferece outras possibilidades enquanto jogo: cabo de guerra, jogos de transformações em animal, lugares e objetos.
Mas, de onde vem a corda? Será que ela foi criada para ser instrumento para brincadeiras? De quê ela é feita? Será interessante para a criança descobrir que a corda também é usada como instrumento de trabalho, amarrando e contendo objetos, segurando grandes navios, erguendo materiais e até mesmo bandeiras, não esquecendo de sua vital presença em alguns festejos do nosso folclore como o Círio de Nazaré.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES (usar a interdisciplinaridade)
Pesquisar e brincar com os diversos jogos cantados com corda.
Conhecer e aprender sobre os diversos nós.
Tipos de corda: nylon, sisal, ticum, cabo de guerra, etc.
CONHECIMENTOS E SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Ensino Fundamental - seguimento de 5ª à 8ª séries
BAILADOS GUERREIRO - O corpo está presente na história que se faz dança, que se faz tradição, que se faz folclore.
São várias as danças do nosso folclore, nascida das guerras entre povos e nações de outras partes do mundo, aportam em nossa terra trazendo sua magia e beleza.
Movimentos rápidos e precisos se transformam em danças que contam movimentos da história, preservados pela tradição folclórica.
Aqui fica o desafio de descobrir e desenvolver danças folclóricas com alunos de 5ª à 8 séries, idade em que vivem o movimento de transformação e desejo de auto-afirmação e identidade. Além disso, essas danças estimulam movimentos corporais mais dinâmicos e precisos, e sabermos que o desenvolvimento motor favorece o desenvolvimento das áreas de cognição.
Janelas são abertas para outros horizontes, outras histórias, outros povos que, de uma maneira ou de outra, estão ligados a nossa cultura, ainda que distantes de nós.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Pesquisar sobre capoeira: luta ou jogo?
Pesquisar sobre bailados guerreiros pelo Brasil e suas origens.
Quais os ritmos que norteiam essas danças?
Lutas que identificam outras partes do mundo.
TEMPOS E TEMPEROS - Em meio a tantas descobertas, foi de grande importância para o homem encontrar formas de conservar os alimentos. Não seria possível ao homem conquistar terras distantes sem antes resolver essas questões.
Mas, o que são essas conservas? De onde vêm? Como chegaram em nossas terras? Quem as trouxe?
Límpido como a água, já se diz na linguagem popular, é perceber o quanto o tempero pode denunciar as influências e tradições culturais de um povo.
Começando pelas especiarias, chegando ao sal, percebemos o quanto os temperos e conservas determinam o paladar do povo brasileiro até os dias de hoje, não somente na mesa, mas na sua linguagem coloquial cotidiana, descrevendo sentimentos e percepções de maneira bem temperada.
Mas não ficamos por aí. Temos nosso próprio gosto, aquele que só a nós pertence e que nos faz conhecidos pelo mundo, conferindo-nos uma identidade singular que dá gosto de ver e de sentir.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES:
Composição plástica usando diferentes cores, formas e tamanhos de variados temperos: cravo, canela em pau, cominho, pimenta seca, orégamo, alho, etc.
Levantamento dos temperos que são usados na linguagem coloquial e seu respectivo significado.
Conhecer tempero de outras partes do mundo.
Pesquisar temperos exóticos: flores, frutas, folhas e sementes.
Pesquisar palavras que possam ser associadas a sabores.
CORDAS E CORDÉIS - Indo um pouco além do ler e brincar com a literatura produzida, partimos para um momento em que será possível conhecer e produzir sua própria história.
Assim são os cordéis: narrativas escritas e amarradas com barbante, deflagrando em verso e prosa, acontecimentos do cotidiano, valendo-se de uma linguagem própria e original do povo que vive no norte e nordeste do país.
Eles nos remeterão a tempos distantes, onde grandes eventos se deram em nossa história, ou mesmo em tempos atuais. Mas quem são os autores destes cordéis? Onde vivem e sobre o quê escrevem? Como são identificados? Estas e outras respostas encontraremos nos próprios cordéis. Ficam aí esses livretos, contando um pouco da nossa e da sua história.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES:
Produzir ilustrações de livretos utilizando a técnica da impressão em mosaicos.
Produzir acrósticos com o próprio nome.
Criar quadrinhas nos mesmos moldes dos cordéis.
Descobrir de onde veio a literatura de cordel.
Estabelecer relações entre a literatura de cordel e a imprensa.
FOTOS E FATOS - Álbum da família: a lente como registro de uma história.
Quem nunca ouviu falar do lambe-lambe da praça e não posou para uma foto em família? Diferente os dias atuais, onde dispomos de segundos para uma foto, enquanto que no passado, para ser fotografado envolvia todo um ritual de paciência e tempo, desde posar diante da câmara até a revelação da foto, estando aí envolvidos os retoques, sem contar com a produção de cenários e figurinos para tal ¨evento¨.
Porém, quantas mudanças ocorreram no mundo da arte e tecnologia com a chegada da fotografia. É o mundo se revelando a partir da imagem, abrindo outras formas de impressão e expressão artística.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES:
Montagem de uma fotonovela a partir de fotos existentes e/ou novas feitas exclusivamente para a atividade.
Trabalhar com retrato pintado e com retrato falado.
Relação da fotografia com o cinema.
BRINQUEDOS CONSTRUÍDOS - Não é comum em nossos dias a construção de brinquedos pela própria criança, pelo menos nos grandes centros urbanos. Estamos cada vez mais distantes desta realidade. A indústria de brinquedos, se por um lado tem sido capaz de criar bons jogos e divertimentos, por outro tem sido responsável pelo esquecimento dos tão saudosos brinquedos da nossa infância.
Porém, mesmo com toda a força presente na indústria, ainda encontramos crianças apaixonadas por fazer o seu próprio brinquedo, quando encontram mãos hábeis que a possam ensinar.
Fazer pipas, dobraduras, carrinhos, petecas, pés de lata..., brinquedos que estimulam a criatividade e a originalidade, provocando nas crianças o prazer pelo criar.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES:
Confeccionar pipas de diferentes tipos e cores.
Levantamento dos brinquedos construídos pelos pais e avós e que não são mais encontrados hoje em dia.
Tentar construir alguns brinquedos de antigamente.
Confecção de brinquedos sonoros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Maria Alice Penna de . Domingo é dia de Folclore. Ed. Paulinas, São Paulo, 1998.
BALBINO, A . Dicionário do Folclore Brasileiro. 3º edição, Instituto Nacional do Livro, Brasília, 1972
FUTURA, O Canal do Conhecimento. Programa Futura na Sala de Aula. Texto de apoio: Folclore.
NILDA, B. Megale. (Folclore Brasileiro) - Petrópolis: Editora Vozes, 1999
RUIZ, C. M. P, Didática do Folclore.
Morada Nova - Ceará.


Sobre o autor:Gilnei Neves Nepomuceno - Professor de Arte Educação
Nasceu em 1º de agosto de 1961, filho do Sr. José Nepomuceno e da Sra. Maria Neves Nepomuceno na cidade de Banabuiu, então distrito de Quixadá.
Em 1993 lançou o livro: Calvário Nacional, um livro de poemas, registrado na Biblioteca Nacional.
Em 1994, passou a se dedicar à música e hoje é registrado como compositor - filiado ao quadro social da Socinpro (Sociedade Brasileira de Administração e Proteção de Direitos Intelectuais).
Fez parte de alguns grupos culturais, a saber: GRUTAMONE (Grupo de Teatro Amador Moradanovense), Grupo de Teatro Asa Branca, Grupo Pingo de Arte e Grupo Bio & Arte, entre outros. Nesses grupos, dedicou mais de 15 anos da sua vida – vezes atuando como ator, como diretor, como escritor, como roteirista, como oficineiro ou como promotor cultural.
Ao longo de sua vida profissional trabalhou na irrigação (desde a limpa até a colheita de culturas), foi gari, auxiliar de produção e auxiliar de escritório, vendedor, Chefe de Escritório, professor de Arte Educação Coordenador Pedagógico e Técnico em Educação (função atual). É graduado em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acarau – UVA e Especialista em Novas Tecnologias na Educação e Gestão Escolar, pela Escola Superior Aberta do Brasil – ESAB

Matéria publicada em 01/09/2006 - Edição Número 85

Fonte: www.kplus.com.br

Reflexão

Se eu pudesse deixar algum presente a você.

“Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida.
A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora.
Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem.
Daria a capacidade de escolher novos rumos, novos caminhos.
Deixaria, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável.

Além do pão, o trabalho.
Além do trabalho, a ação.

Além da ação o cultivo à amizade.
E, quando tudo mais faltasse, deixaria um segredo:
O de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída”.

Gandhi

6 de agosto

Dia 6 de agosto de 2009 se completa 64 anos da explosão da bomba de Hiroshima. Apesar de essa grande tragédia ter mostrado ao mundo, há 64 anos, que as guerras e as bombas nucleares são atrocidades que precisam ser eliminadas completamente da face da Terra, a corrida armamentista está a todo vapor. Hoje existe no mundo, um imenso arsenal atômico composto por mais de 30.000 artefatos nucleares, capazes de destruir várias vezes o planeta, e hoje é possível transportar numa maleta uma bomba 10 vezes mais poderosa que as que destruíram Hiroshima e Nagasaki. Em 300 cidades do mundo acontecerão atos e eventos para recordar um momento na história que nunca deveria ter ocorrido e para criar consciência da necessidade do Desarme Nuclear.

A lenda do pássaro tsuru.

Eram os pássaros companheiro dos eremitas que faziam meditação nas montanhas.
Como esses eram eremitas místicos e que supunham ter poderes sobrenaturais para não envelhecer, o tsuru passou a ser considerado um pássaro de vida longa.
Eles simbolizam mocidade eterna e felicidade. Tal crença se estende praticamente ao longo de quase toda Ásia.
Diz a lenda, que quem fizer mil origamis de tsurus com o pensamento voltado para aquilo que deseja, alcançará bons resultados.
Também é costume no Japão, levar papéis de origamis quando se visita alguém adoentado, na esperança de que quanto mais origamis de tsuru o acamado fizer, mais rápido se recuperará de sua enfermidade.
Ao dobrar cada figura, a pessoa deposita nela toda a fé e esperança na recuperação do doente.
No Japão, todos os anos no dia 6 de agosto, são depositados inúmeros tsurus no mausoléu erguido em homenagem aos que morreram na tragédia atômica de Hiroshima e nagasaki, como forma de manifestação pacífica pela paz mundial e o pedido maior é que tamanha desgraça não volte mais a se repetir.
Há vários conjuntos de mil grous vindos de todas as partes do Japão. São feitos por alunos de escolas e associações, enfim por um grupo de pessoas que se uniram para pedir uma coisa: Paz. Para a confecção destas mil aves é preciso união, esforço e fé de muitas pessoas, formando-se assim uma corrente de pensamento positivo.




Fonte: Acervo Comitê Marcha Mundial Santa Maria - RS 55 - 32265231 com Lídia.

Ajude-me, Doutor, que não posso dormir.

Seis moscas me zumbem na cabeça e não me deixam dormir. Na verdade, o mosqueiro de minhas insônias é muito mais numeroso, mas digo seis para simplificar o caso. A seguir, descrevo algumas das angústias que à noite me atormentam. Como se verá, não são pouca coisa. Elas se referem, nada mais, nada menos, ao destino do mundo.


Ficará o mundo sem professores?

Segundo informou o jornal The Times of India, uma Escola do Crime está funcionando, com sucesso, na cidade de Muzaffarnagar, a oeste do estado hindu de Uttar Pradesh.
Ali se oferece aos adolescentes uma formação de alto nível para ganhar dinheiro fácil. Um dos três diretores, o educador Susheel Mooch, tem a seu cargo o curso mais sofisticado, que inclui, entre outras matérias, Sequestros, Extorsões e Execuções. Os outros dois se ocupam de matérias mais convencionais. Todos os cursos incluem trabalhos práticos. Por exemplo, o ensino do roubo em autopistas e estradas: ocultos, os estudantes arremessam um objeto metálico no automóvel escolhido; o ruído faz com que o condutor se detenha, intrigado, e então se procede ao assalto, que o mestre supervisiona.
Segundo os diretores, esta escola surgiu para dar resposta a uma necessidade do mercado e para cumprir uma função social. O mercado exige níveis cada vez mais altos de especialização na área do delito, e a educação criminosa é a única que garante aos jovens um trabalho bem remunerado e permanente.
Temo que tenham razão. E me dá pânico pensar que o exemplo vá frutificar na Índia e no mundo. O que será dos pobres professores das escolas tradicionais - pergunto-me-, já castigados pelos salários de fome e pela pouca ou nenhuma atenção que lhes prestam seus alunos? Quantos professores poderão reciclar-se, adaptando-se às exigências da modernidade? Dos que eu conheço, nenhum. Consta-me que são incapazes de matar uma mosca e não têm talento nem para assaltar uma velhinha desamparada e paralítica. O que esses inúteis vão ensinar no mundo de amanhã?


Eduardo Galeano - "O teatro do bem e do mal".
Coleção L&PM Pocket, vol. 293 - 2002, pp. 102-103

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Jogos Didáticos de Matemática II

Dominó.
Este jogo contém 28 peças de dominó, em algumas delas haverá contas de substração em outras haverá o resultado dessas contas. Para jogar basta que tenhamos de um a quatro jogadores. O jogo procederá da mesma forma que de um dominó comum, cada jogador deverá ter sete peças, se houver menos de quatro jogadores as outras peças ficaram a disposição para serem compradas.
Começará o jogo aquele que tiver uma peça que tenha o número zero em um dos lados, para saber quel é a próxima peça a ser jogada, é necessário fazer as contas que estão nas outras peças para ver ver de qual delas é aquele resultado, porém tem um detalhe que deve ser observado, assim como no dominó, deve-se obedecer a ordem das cores, ou seja, a conta que coincide com aquele resultado e vice-versa, a peça deve ser da mesma cor.
No caso de um deficiente visual, do outro lado da peça os números estão em Braille e as cores são diferenciadas por um sinal de diferente forma que há em cada peça.

Sobre nós etc & tal. Prof Sirineu R. Filho (Final)

Cada vez mais as atividades culturais tornam-se um termômetro muito sensível, refletindo todo um comortamento social. O Brasil de hoje escancarou suas portas à dominação estrangeira. Isso se dá em todods os níveis, inclusive na cultura. Por isso, a cultura popular se manifesta através do lazer. Não é uma cultura de guerra, é uma cultura de festa, não é transformadora. Não podemo0s considerar nossa cultura como utilitária a ponto dela ter uma intenção de transformação imediata. Ela é feita, usufruída no momento (não temos contuinidade de discussão. Dona Maria e Seu José não participam da discussão, da montagem e dos reflexos que ela pode acontecer).
Devemos dar essas formas um conteúdo novo, e de forma científica; conhecer a ciência dessa transformação, dessa realidade. Essa deve ser a grande diversão do fazer, você discutir, participar de euma coisa que te mostra a tua realidade.
A arte tem que contribuir, num país ou região como a nossa, para a melhoria dessa situação. A arte tem que dar caminhos, e não obedecer ordens. A palavra do povo artista,(nosso desfile e Camereada) é a da transformação geral.
Cultura popular não é a cultura que o povo construiu para agradar o patrão. É a cultura que ele tem da sua libertação, da sua explosão como uma grande nação. Essa é a verdadeira cultura popular.
Nossa região (sul do RS e norte do Uruguai) sempre foi privilegiada pela globalização, primeiro foi a globalização linguistica e atualmente o contato com as mercadorias importadas pelos Free Shops.
Quanto a globalização linguística no início foram mantida as trocas de idiomas entre charruas, minuanos, guaranis e os espanhóis na dominação religiosa dos jesuitas, o que desde o começo e até mesmo pela doutrinação do clero impera a noção de nação no povo em formação.Portanto, a nação nestes campos surge anterior ao Estado, porque não existe naquele momento uma noção de classes sociais e sim de povo, fato provocado pela própria pregação socializadora dos jesuítas.
Após os jesuítas, os portugueses e suas bandeiras invadem nossos pampas em busca de índios e gado (chimarão). Assim, na luta pelas vacarias da Banda Norte, dos Pinhais e do Mar cabe a necessidade pela sobrevivência do homem a mistura dos idiomas guarani, português e espanhol.
A exploração do gado leva a construção dos saladeiros e, dessa forma a demanda pela mão-de-obra escrava. Portanto, a grande quantidade de europeus, amerindios e negros (angolanos, gongo outros), provoca a mesigenação (que caracteriza o "pelo duro" dos negros e os olhos puxados dos indígenas, como somos chamados no norte do RS)
O negro não participa muito na mistura linguística, até mesmo para manter uma resistência a dominação violenta. Porém, na mistura etnológica ele ou ela é obrigada pelo branco para a reprodução da mão-de-obra escrava.
A nossa identidade está intimamente ligada ao portunhol, até porque o portunhol como idioma ou dialeto é praticado pelas classes mais pobres, fato este, que pela nossa posição geográfica nos localiza nas periferias industriais (Porto Alegre e Montevideu), e em consequência existe, também, o empobrecimento de toda a nossa região.
Em todo caso, a língua não é um fim nela mesma é, uma ponte para novas culturas. Por isso, meu amigo do outro lado da linha divisória, deixa eu aprender a tua língua e dizer que ela é tão bonita quanto a minha.
Mais além, provavelmente muitos casos de fracassos nas séries iniciais, esteja associado a dificuldade que nossos jovens tem em dominar um idioma, que não o praticado no dia a dia.
A conturbação das cidades de Livramento e Rivera, isto é, de cidades que se aproximam, firmando uma sequência sem contudo se confundirem. Manifesta Rivera em sua arquitetura uma firte influência inglesa em suas casas, casas geralmente, sobrados com teto em telhas e janelas com a parte superior arredondada.
A organizãção produtiva das áreas baseadas na comercialização da carne, expressa a vinculação à expansão industrial inglesa e ao comércio mundial desse produto. A relação com espaço Platino, onde ao longo do século XIX e grande parte do século XX imperaram os capitais ingleses, o que indica claramente a escala de relação que deram o rumo para a formação regional e a organização do espaço nestas cidades.
Já do lado de Livramento as casas manifestam uma forte arquitetura de origem puramente gaúcha, principalmente nas vilas, onde impera as casas de cobertura baixas, no primário a manifestação se faz pela origem dos Ranchos de barro, cobertos de palhas. Um deles é a casa de taipa, de sopapa ou de tapona, onde a cobertura, de duas águas, é feita de santa-fé.
A o0rigem deste tipo de habitação não é importado como no caso de Rivera (inglesa), já que a habitação e nois primórdios do ciclo Luso-brasileiro, a idade do couro, era toda de couro cru.
E os próprios toldos dos indígenas locais, primitivamente tapados de esteiras, vieram a sofrer a influência do gado ali introduzido pelos descobridores. Daí surge a atual expressão, quando vamos ao Super Mercado fazer compras do mês dizemos: Vamos fazer um rancho.

O Professor Sirineu Rocha Filho ministra aulas de História e Geografia no Curso Normal do Instituto Estadual de Educação Professor Liberato Salzano Viera Da Cunha da cidade de Sant´Ana do Livramento, Rio Grande do Sul - Brasil.
A cidade de Sant´Ana do Livramento junto com a cidade fronteiriça de Rivera (departamento de Rivera da República Oriental del Uruguay) fazem parte da chamada "Fronteira da Paz" única fronteira do mundo com livre acesso entre elas.


Obs.:Os textos postados até agora com o título "Sobre nós etc & tal" serão retirados dentro de um mês para correção e revisão junto com o autor. Portanto, aproveite esse tempo para ler os mesmos e enviar informações ou comentários que possam acrescentar e enriquecer ainda mais este material. Muito obrigado.

Sobre nós etc & tal. Prof Sirineu R. Filho (Parte X)

A arte popular tem sido utilizada pelas elites dominantes para a continuidade de seu mandar. A cultura popular, por ser popular, evolui dialéticamente,(seja no sentido que for) e se transformam. Agora, quando o governo utiliza a arte popular para fomentar o turismo são péssimas, porque descaracteriza a arte num todo. Em todo caso, uma faca de dois gume:os agrupamentos folclóricos(CTGs, Galpões, Movimentos Nativos) vivem à mingua, triturados e esmagados pelo complexo econômico-financeiro, tendendo a desaparecer, neste caso. Se é ajudado, com fins turísticos, salva-se mas cai na degradação, quero dizer, diante de pessoas de outras classes sociais passa a representar, deixa de ser autêntico ou em parte conservando sua autenticidade como é atualmente.

Estas interrogações de hoje partem de um paralelo entre o nosso desfile do 20 de Setembro X o desfile de Carnaval das capitais brasileiras, que em grande parte perderam suas características. Agora, fica a grande pergunta. O que fazer? O que é mais importante? A preservação do nosso folclore ou a preservação descaracterizada de nossas entidades gauchescas?Enquanto os organismos responsáveis pela cultura popular, (Governo, Turismo, Entidades Folclóricas etc) não travarem uma discussão a este respeito de conservação ou evolução de nossa cultura, outras culturas paralelas podem naturalmente inflitrarem-se a descaracterizarem nossa cultura popular.

Sobre nós etc & tal. Prof Sirineu R. Filho (Parte IX)

A fronteira é um mundo que muitas vezes parece uma prisão, ela possui sua própria linguagem, é um mundo de exclusão, um mundo aparte, um mundo em que o que fala mais alto e mais brusco leva vatagens. Nos seus costumes, uma pessoa de fora, se vestir-se na moda ou variar de roupa é visto como homosexual, se apresenta-se cabeludo é considerado drogado.
Este mundo região em que o uruguaio apresenta alto nível cultural eo Brasill o aplasta com suas redes globais e futebol, leva a derrubada da alta estima do forasteiro.
O desrespeito individual leva a falta de cidadania, então, desta forma muita coisa errada como: tráfico, roubo de carros, contrabando, abuso de adolecentes, sequestro de motos e carros etc. torna-se comuns na sociedade de fronteira, como sendo um "mumú" (linguagem usada para definir negócio ilícito, fácil). O caminho da denúncia social, o encaminhamento de erros para a correção não são presentes e terminam afetando a auto estima de um todo.
Este todo excluido é oprimido e não se transforma em estímulos para um progresso social dinâmico, que é o que o mundo atual exige.
Por isso, pela falta de querer um mais, é que a fronteira está entre a espada e o muro, não se transforma em progresso econômico e é cada vez mais achatada na sua conduta de um mundo região isolada.
O fato de intelectuais a serviço de classes dominantes elaborarem, numa forma ideológica o ideário gaúcho, durante muito tempo nada foi contestado de forma mais ampla. No entanto, o mecanismo de ajuste deste ideário, foi a imagem, cordial e hospitaleira da figura deste personagem.
Aqui em nossa região, onde o caráter prático da identidade criada é amior, fica uma pergunta:será que esta hospitalidade e cordialidade toda é verdadeira?
As grnades distâncias entr os latifúndios existentes na região da campanha, fazem e faziam com que as figuras, destes campos pampeanos, sintam-sesolitários e carentes de informação de um mundo não tão distante. Portanto, quando um forasteiro aparece é natural que ele seja gentil e hospitaleiro. Mas será ele gentil ou desconfiado, pronto para saber qual o objetivo da visita do forasteiro?
Esta desconfiança se dá pelo passado histórico de guerras e disputas territorias na região.
O mesmo acontece na forma urbanizada, onde pode acontecer com que um empresário venha de fora investir em nossa cidade e tenha toda a sua vida investigada, para saber se ele presta ou não presta como pessoa, ou como empresário. Ora, esta forma não é correta para tratarmos um futuro investidor. Pois desta forma, este aspecto cultural encrunhado em nossa epiderme, deve mudar, para que sejamos gentis de verdade e, não desconfiados. Retratando as falsas imagens criadas por intelectuais positivistas de outrora ou do presente.
Esta desconfiança é o preço da falsa imagem criada, para disfarçar o processo da criação do Estado, disputado por espanhóis e portugueses, que tiveram que pagar muitas vezes o patrimônio e o sangue levado para abastecer a formação deste Estado que se diz Nacional.
Definir cultura popular é muito complexo. Há diversas posições à respeito. Uma das posições é achar que qualquer produto cultural inspirado pela ideologia do povo seja em si um produto da cultura popular, mesmo que não venha das camadas populares.
Por outro lado, tem o grande tema: a televisão faz parte da cultura popular? Eu acho que sem dúvida que sim. Inclusive, ela é transformadora da cultura popular. Agora, se ela é cultura popular sendo antipopular é outra discussão. É cultura popular aquela que vem ou aquela que atinge as grandes massas populares?será que a obra, por ser aceita pelas grandes massas, é uma obra de cultura popular?
E o nosso desfile do 20 de Setembro, a nossa campereada é cultura popular?Será que estes eventos não estão a serviço de outra camada que não é a maioria, portanto, será ele popular?Mesmo sendo aceito pelas grandes massas.
Cultura popular é toda a manifestação que se coloca de uma forma inequívoca ao lado do povo e contra o opressor. Porém, existe tempo de confeção de cada tipo de arte a ser analisado.
O trabalho da cultura popular se faz na medida em que o povo discute vários aspectos da sua sociedade, inclusive e com mais força o aspecto econômico.
Primeiramente, a própria revolução farroupilha, que de revolução não tem nada, foi apenas a luta de uma camada abastada pela melhoria de preço do seu produto; onde quem parte para a luta do corpo a corpo, na defesa do produto do fazendeiro foram as camadas populares. Portanto, a comemoração em si não tem nada de popular.

Sobre nós etc & tal. Prof Sirineu Rocha Filho (Parte VIII)

Quando pelas ruas de nossa cidade fazenda, o que mais vejo pelas vitrines das lojas que passo, são a carne humana pendurada, os braços cruzados dos vendedores, com o medo do desemprego expresso em seus olhares cansados. De tanto tempo de trabalho, tanto tempo, sem tempo para fazer dinheiro.
Leonardo Boff, faz um comentário: que em nossos dias, o mercado está celebrando mais sacrifícios humanos que os astecas em seu templo maior.
O produto das vitrines, se faz presente em uma quantidade muito grande. Portanto, o medo toma conta e, os salários cada vez são mais baixos, o poder de compra cada vez mais diminui.
A corrente começa a se formar, muita mão-de-obra, medo, desemprego, salários baixos, violência.
O direito do trabalho se reduz ao direito do quanto querem te pagar e nas condições que querem te impor. Atualmente, não existe no mundo mercadoria mais barata que a mão-de-obra. O medo toma conta de perder: perder o trabalho, perder o pouco do dinheiro necessário para sobreviver ao sul do Equador, perder a comida, perder a casa, não haverá exorcismo que nos salve da maldição do final do século.
Até os donos das lojas, os ganhadores, do nosso comércio local, poderão da noite para o dia, tornarse um perdedor, falido, um fracassado indigno do perdão do capital globalizado.
Quem se salvará do terror da desocupação?Quem não teme ser um náufrago das novas tecnologias? Um náufrago dos free-shops?
Qualquer um pode cair, em qualquer momento e em qualquer lugar. Em seus contratos a tecnologia não exige salários, nem férias, nem indenizações, nem 13º salários, nem salários desemprego etc.
Assim, como os mexicanos passam o rio bravo atrás de salários, os Uruguaios de nossa fronteira passam nossos marcos ao encontro de aluguel mais baixos, comida etc. E os nossos Brasileiros ricos dos whiskis e perfumes. É um verdadeiro carrocel, onde os cavalinhos do capitalismo são potros difíceis de ser domados.
Quem percorrer a fronteira urbana (Livramento/Rivera) de hoje fica muitas vezes surprendido com aspectos que se imagina existirem nos nossos dias unicamente em livros de história; e se atentar um pouco para eles, verá que traduzem fatos profundos e não são apenas reminiscências anacrônicas.
Na década de 60 e 70 o canal 10 de Rivera, era grande rede de comunicação, nesta época muitos dos da minha idade, aprenderam, sem querer a falar o espanhol. Porém, hoje, como a tempos atrás não adianta querer aprender uma das nossas duas línguas. Aqui exsitem um grande número de palavras que retratam um intercambio, de costumes maiores do que se pensa. Algukmas palavras, na ordem espanhol/portunhol/português: silla, sia, cadeira; oveja, ovêia, ovelha; vieja, véia, velha.
Assim, como as palavras, uma série de costumes, também se misturam, como: três beijos no cumprimento dos brasileiros e um beijo no costume uruguaio. Este fato, parece simples. No entanto, hoje, com a inversão das comunicações televisivas de outrora, atualmente é mais assistida a Globo pelos riverenses, e faz com que os uruguaios assimilassem mais os hábitos brasileiros, o inverso do que era em décadas passadas. Não só o fato dos beijos, mas é o começo para uma série de introdução a vícios de drogas, modificações morais e sociais, o sexo por exemplo e, até mesmo a AIDS.
Nos bairros Cuaró e Povo Novo, bairros de atividades operária, é justamente os bairros que residem o maior número de brasileiros em Rivera, e por incrível que pareça são os bairros onde existe umgrande consumo de drogas.
Neste terreno social, na maior parte dos exemplos, e no conjunto, em todo caso, atrás daquelas transformações que às vezes nos podem iludir, sente-se a presença de uma realidade já muito antiga que até nos admira de aí achar o nosso passado latifundário de exclusão social.
Ou quem sabe o futuro é diferente como o filme "EL baño del Papa", e a coisa toda se inverta.

Sobre nós etc & tal. Prof Sirineu Rocha Filho (Parte VII)

Emquanto os novos assentamentos que chegam a nossa cidade reivindicam educação, transporte e desenvolvimento, mais tarde quando estas tornarem-se cidade programarão prioridades de investimentos de etrutura básica mínimas como: pavimentação, transportes e melhorias nos acessos vecinais, investimentos que respaldem suas comunidades e que permitirão o escoamento da produção agícola.
Em função disto, um dos argumentos que serão alegados estará justamente na gestão urbana em detrimento da atenção à área rural, expresso na falta de investimentos no campo e infra-estrutura periférica, como a viabilização de atendimento básico às comunidades agrárias. A insastifação das comunidades com o poder e a administração local, favorecidas pelo eleitorado, levará à mobilização política, coroada em suas reivindicações pelo providencial descasso da sede municipal. A apatia, a falta de articulações a ausência de lideranças expressivas que possa administrar as reivindicações populares também contribuirá para a futura perda de arrecadação no município mãe.
Não é possível analisar as dificuldades do município como o desemprego e o baixo desempenho agroindustrial em nível regional sem considerar as variáveis "macro econômicas" em nível nacional ou internacional em função da economia globalizada.
Esta questão de globalização é procedente, pois, conforme SCHAFFER (93), em função do Mercosul, a região fronteiriça deixa de ser marco de separação, limite ou fim do país para adquirir contornos de áreas de aproximação e permeabilidade, fato que os discursos e políticas públicas oficiais reforçam, considerando-se a metade sul do RS, assunto relevante na atual gestão administrativa. Os discursos públicos abordam a estratégia da implntação de infra-estrutura para equipar este espaço em transformação, contemplando a área com melhorias estruturais como a conclusão de obras rodoviárias, construção de pontes, dotação de energia elétrica e fomentando também a pesquisa e o diagnóstico para promover o desenvolvimento regional.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sobre nós etc & tal. Prof Sirineu Rocha Filho (Parte VI)

A grande identidade regional gaúcha (política e cultural) e a existência de instituições regionais, juntas podemos concretizar como sendo um Estado região, o que têm possibilitado tanto a resolução de conflitos sociais internos como o encaminhamento das reivindicações regionais junto a Federação.
Mesmo com os constantes fluxos migratórios gaúcho para outras regiões do Brasil, sendo que em muitos casos não há um investimento estatal que faça os migrantes permanecerem neste novo ponto, mesmo assim, a sociedade gaúcha tem optado pela brasilidade. Políticos e intelectuais têm se mostrado conscientes quanto às possibilidades de desenvolvimento reservadas ao projeto nacional, ainda que atualmente este não esteja claro. E sem apoio destes, os grupos separatistas gaúchos têm pouco possibilidades de chegarem a um movimento regional popular.
Este movimentos, cometem erros táticos graves, quando salientam em suas facções, que já existe a construção de um Estado nacional gaúcho, sendo que estes deveriam enfatizar e defender um gradativo autonomismo regional, inclusive como forma de flexibilidade política.
O RS deve ter consciência de que sua influência política na federação somente apresentou frutos quando foi capaz de armar alianças de grande porte (como a Revolução de 30) e que tanto o novo pacto da federação como o possível desenvolvimento nacional, voltado para o desenvolvimento das regiões periféricas (Guerra Fiscal, indústrias dirigindo-se para a Bahia), exigem que se saia do isolacionismo político regional no qual o RS se encontra. Aproveitando o momento, Livramento também precisa sair do isolacionismo micro regional político, social e econômico e captar investimentos ou o último a sair vai ter que apagar a luz.
Parece que os atuais assentamentos, recentementes chegados a nossa cidade, vão fazer com que as distância entre os nossos municípios mais próximos (100km cada um em média), seja reduzidas, no contra ponto todo um aparato social será montado naturalmente, trazendo benefícios a um todo regional.

Sobre nós etc & tal. Prof Sirineu Rocha Filho (Parte V)

A nossa região, sustentada pela criação de gado, caracterizou-se pela concentração da propriedade e da renda, sendo o ciclo do charque responsável pela consolidação, ao longo da divisa com o Uruguai, de uma rede urbana evoluída dos antigos acampamentos militares, hoje com funções comerciais e administrativas.
Analisando os dados, este apresentou um contraste daquela histórica vocação da região, caracterizada pelo cultivo extensivo do solo, que sempre ocupou pouca mão-de-obra. DalMolin (94) ilustra a situação ao referir-se às necessidades de uma estância com 10mil cabeças de gado, que precisa de apenas um capataz e dez peões para manejá-la (só para ilustração, quem têm 10 mil cabeças de gado na fronteira?), justificando-se com tal prática a pouca contribuição desta atividade econômica no processo de formação de núcleos urbanos na região, esparsos e desarticulados entre si. Fora das sedes urbanas, os núcleos de povoamento são poucos, abrigam uma população reduzida e, principalmente um eleitorado mínimo, servindo sua escassez como fator negativo na formação de uma rede urbana mais densa no sul do RS.
Hoje, a estagnação sulista decorrente da crise produtiva do setor primário contrasta com os investimentos em infra-estrutura nas áreas industrializadas do Nordeste do Estado, acentuando o crescimento geograficamente concentrado, chamando a atenção para o agravamento de tensões causadas por um padrão de crescimento econômico espacial desigual (no Nordeste/Norte do RS nasceu o MST), reforçando o fato de que áreas dotadas com infra-estrutura atraem mais investimentos e aumentando as diferenças econômicas e estruturais entre Centro (Região Metropolitana de Porto Alegre) e a periferia (Região da Campanha).
A Campanha Gaúcha como um todo, apresentou fraco desempenho de produção apartir dos anos 40, principalmente a região compreendida por Alegrete, Bagé, Cacequi, Dom Pedrito, Quaraí, Rosário do Sul e a nossa Sant´Ana do Livramento, São Gabriel e Uruguaiana. Nestes municípios, os problemas enfrentados pela bovinocultura foram os mesmos de décadas anteriores:dificuldades dos produtores em manter os níveis de rentabilidade suficientes para competir com outras atividades pelo uso das terras de melhor qualidade e para competir em termos de custos com a mesma atividade desenvolvidas em outras áreas do país.
Depois das décadas da ditadura militar, da crise econômica, começada pela crise do petróleo e refletida numa crise de Estado, o renascimento da democratização na vida brasileira é acompanhada do ressurgimento de movimentos autonomistas, separatistas que visão a divisão do Estado.
Nos anos 90, surgiram os primeiros grupos separatistas gaúchos contemporâneos, entre eles o de maior repercussão, o "Movimento República do Pampa Gaúcho" cujo lider era Irton Marx. A imprensa nacional ou regional ao invés de tornar um debate esclarecedor, a respeito dos ideários do movimento, preferiu explorar a matéria sensacionalista da figura caricata de seu lider Irton Marx.
Para efeito, se sintetizarmos as propostas dos grupos separatistas, poderia parecer que o separatismo manifestaria traços arcaicos do regionalismo do sul de estado. Os panfletos da época do MRPG, expressavam ao passado gaúcho de equilíbrio fundiário, com a proposta ainda de o controle estatal sobre o capital industrial e o monopólio estatal sobre o capital financeiro, discursos e bandeiras que na verdade nada se parecem com os movimentos regionalistas euro-ocidental sérios da atualidade.
Principais grupos separatistas existentes no sul de 1994:
MRPG, Movimento República do Pampa Gaúcho (Santa Cruz do Sul, Novo Hamburgo, São Leopoldo),
Partido da República Farroupilha - PRF (Porto Alegre),
Movimento Pátria Livre (Porto Alegre),
Frente pela Autodeterminação do Sul (Santa Maria),
Movimento o Sul é o meu País (Curitiba).
As características da economia gaúcha, nos casos da pequena produção mercantil (sustentáculo de grandes agroindústrias exportadoras) e da empresa familiar (que tem realizado parcerias com grupos internacionais), tem contribuido para a redução dos eventuais efeitos desintegradores, sejam eles sociais ou econômicos.
Estas antigas formas de separatismo, estão fora da área de atuação desta linha de pensamento antigo que pertencia a Campanha, base de nascimento do movimento separatista do século passado.
O eleitorado, a classe econômica e a classe política (esta última por vez refortalece seu discurso de negociação), não estão inclinados a aderir à causa separatista, pois o regionalismo oficial ainda tem demonstardo vigor no encaminhamento de reivindicações regionais junto às instituições federais.

Sobre nós etc & tal. (Parte IV)

A Constituinte de 1988, promoveu uma descentralização fiscal e aprofundou o princípio da compensação na distribuição dos fundos federais. Por esse motivo, as reivindicações regionais têm prosseguido na atualidade através do acirramento da chamada guerra fiscal (disputa interestadual pela atração de novos investimentos produtivos com base na isenção fiscal) e da presença cada vez mais constante dos governadores na vida política nacional.
Não só a nívelde Brasil como do mundo a queda da geopolítica bipolar, também, levou as discussões políticas a uma descentralização maior e, a nível de América Latina a principal mola propulsora desta discussão maior dos espaços regionais, foi a queda dos regimes militares.
O Estado de RS, é o mais visado a nível nacional das questões autonomistas no Brasil, tanto por sua longa tradição legionalista como pela recente retomada da bandeira separatista por parte de alguns grupos políticos.
Voltando a questão da Constituição de 1988, as instituições administrativas regionalizadas pelo poder central antecedem os regionalismos. Então essas próprias instituições podem contribuir para a criação de uma solidaridade regional, facilitando a criação de um elo entre a burocracia e o cidadão.
A atual crise de identidade dos Estados modernos se desfortace na busca de Alianças econômicas (Mercosul, Nafta, Tigres Asiáticos etc) e levará a um fortalecimento dos espaços regionais e a um fortalecimento das nações.
Os regionalismos modernos podem ser compreendidos como movimentos sociais que visam a formação de Estados regionais completos para que, apartir destes, possam tanto resolver os conflitos sociais internos como estabelecer um contato institucionalizado com o restante da comunidade nacional.
A idéia moderna de nação é um produto histórico de ascensão do liberalismo, o Estado nacional seria uma necessidade histórica por possibilitar o desenvolvimento de uma série de tarefas vitais para a reprodução de qualquer sociedade baseada em relações de trabalho capitalistas, tais como a criação de sistemas educacionais, militares, jurídicos e administrativos, o planejamento da infra-estrutura ncional e a garantia de unificação do mercado nacional.
A identidade gaúcha é construida e reflete até hoje, antes no liberalismo, hoje no new liberalismo, por ter sido construida quando a República organizara-se como base no modelo federativo, garantindo autonomia para os aparelhos de Estados Regionais.
Desta forma, quando o mercado social se enfraquece em suas relações, quando o mercado de trabalho cria mais desequilíbrios sociais a nação tende a se fortalecer nas formas regionais. Por este motivo os desfiles de 20 de Setembro, em nossa região, cada vez mais aumentam.

José Pacheco e A Escola da Ponte VI


Especialista em Música e em Leitura e Escrita, é mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Coordena, desde 1976, a Escola da Ponte, da qual é idelizador, instituição que se notabilizou pelo projeto educativo inovador, baseado na autonomia dos estudantes.
É autor de livros e de diversos artigos sobre educação, definindo-se como “um louco com noções de prática”.

José Pacheco e A Escola da Ponte V

Fonte do Texto de Rubem Alves:

www.escola2000.org.br/pesquise

José Pacheco e A Escola da Ponte IV

A Escola da Ponte
Rubem AlvesImagino que você, que procura minhas crônicas aos domingos, deve estar cansado. Pois este é o quinto domingo em que falo sobre a mesma coisa. Pessoas que falam sempre sobre as mesmas coisas são chatas. Além do que essa insistência em uma coisa só é contrária ao estilo de crônicas. Crônicas, para serem gostosas, devem refletir a imensa variedade davida.Um cronista é um fotógrafo. Ele fotografa com palavras. Crônicas são dádivas aos olhos. Ele deseja que os leitores vejam a mesma coisa queele viu. Se normalmente não sou chato, deve haver alguma razão para essa insistência em fotografar uma mesma coisa. Quem fotografa um mesmo objeto repetidas vezes deve estar apaixonado. Comporta-se como os fotógrafos de modelos, clic, clic, clic, clic, clic...: dezenas,centenas de fotos, cada uma numa pose diferente! Um dos meus pintores favoritos é Monet. Pois ele fez essa coisa insólita: pintou um monte de feno muitas vezes. E o curioso é que ele nem mudou de lugar, não procurou ângulos diferentes. Ficou assentado no seu banquinho, cavalete no mesmo lugar, e foi pintando, pintando. Porque, na verdade, o que ele estava pintando não era o monte de feno, uma coisa banal, de gosto bovino. O que ele estava pintando era a luz. Ele só usou o monte de feno como espelho onde a luz aparecia refletida, não como uma coisa fixa, mas como uma coisa móvel. A série de telas do monte de feno bem que poderia chamar-se "Strip tease da luz": devagar, bem devagar, ela vai se desnudando...Pois estou fazendo com as minhas crônicas o que Monet fez: ele, diante do monte de feno;; eu, diante de uma pequena escola por que me apaixonei -- pois ela é a escola com que sempre sonhei sem ter sido capaz de desenhar. Nunca fui professor primário. Fui professor universitário. O Vinícius,descrevendo a bicharada saindo da Arca de Noé, disse: "Os fortes vão na frente tendo a cabeça erguida e os fracos, humildemente, vão atrás, como na vida..." Pois é exatamente assim que acontece na Arca de Noé dos professores: os professores universitários vão na frente tendo a cabeça erguida, e os primários, humildemente, vão atrás, como na vida...Professor universitário é doutor, cientista, pesquisador, publica em revistas internacionais artigos em inglês sobre coisas complicadas que ninguém mais sabe e são procurados como assessores de governo e de empresas. Professor primário é professor de 3ª classe, não precisa nem ter mestrado nem falar inglês, dá aulas para crianças sobre coisas corriqueiras que todo mundo sabe. Crianças -- essas coisinhas insignificantes, que ainda não são... Haverá atividade mais obscura?Professores universitários gostam das luzes do palco. Professores primários vivem na sombra... Quando entrei na universidade para ser professor senti-me muito importante. Com o passar do tempo fui sendo invadido por uma grande desilusão -- tédio --, um cansaço diante da farsa. Partilhei da desilusão dos alunos que se sentiram muito importantes quando passaram no vestibular e até ficaram felizes quando os veteranos lhes rasparam ocabelo. Cabelo raspado é distintivo: "Passei! Passei!" Não levou muito tempo para que descobrissem que a universidade nada tinha que ver com os seus sonhos. E essa é a razão por que fazem tanta festa e foguetório quando tiram o diploma. Fim do sofrimento sem sentido. A velhice me abriu os olhos. Quando se chega no topo, quando não há mais degraus para subir, a gente começa a ver com uma clareza que não tinha antes. "Tenho a lucidez de quem está para morrer", dizia Fernando Pessoa na "Tabacaria". Fiquei lúcido! E o que vi com clareza foi o mesmo que viu Joseph Knecht, o personagem central do livro de Hesse O jogo das contas de vidro: depois de chegar no topo, percebeu o equívoco. E surgiu, então, o seu grande desejo: ensinar uma criança, uma única criança que ainda não tivesse sido deformada (essa é a palavra usada porHesse) pela escola. Também eu: quero voltar para as crianças. A razão? Por elas mesmas. É bom estar com elas. Crianças têm um olhar encantado. Visitando uma reserva florestal no estado do Espírito Santo, a bióloga encarregado do programa de educação ambiental me disse que é fácil lidar com as crianças. Os olhos delas se encantam com tudo: as formas das sementes, as plantas, as flores, os bichos. Tudo, para elas, é motivo de assombro. E acrescentou: "Com os adolescentes é deferente. Eles não têm os olhos para as coisas. Eles só têm olhos para eles mesmos..." Eu já tinha percebido isso. Os adolescentes já aprenderam a triste lição que se ensina diariamente nas escolas: Aprender é chato. O mundo é chato. Os professores são chatos. Aprender, só sob ameaça de não passar no vestibular. Por isso quero ensinar as crianças. Elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante do banal. Tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, um ninho de guaxo, uma concha de caramujo, o vôo dos urubus, o zunir das cigarras, o coaxar dos sapos, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Dessas coisas,invisíveis aos eruditos olhos dos professores universitários (eles não podem ver, coitados;; a especialização tornou-os cegos como toupeiras, só vêem dentro do espaço escuro de suas rocas -- e como vêem bem!), nasce o espanto diante da vida;; desse espanto, a curiosidade;; da curiosidade, a fuçação (essa palavra não está no Aurélio) chamada pesquisa;; dessa fuçação, o conhecimento;; e do conhecimento, a alegria!Pensamos que as coisas a serem aprendidas são aquelas que constam dos programas. Essa é a razão por que os professores devem preparar seus planos de aula. Mas as coisas mais importantes não são ensinadas por meio de aulas bem preparadas. Elas são ensinadas inconscientemente. Bom seria que os educadores lessem ruminativamente (também não se encontra no Aurélio) o Roland Barthes. Ele descreveu o seu ideal de aula como sendo a criação de um espaço -- isso mesmo! Um espaço! -- parecido com aquele que existe quando uma criança brinca ao redor da mãe. A criança pega um botão leva para a mãe. A mãe ri, e faz um corrupio (você sabe o que é um corrupio?). Pega um pedaço de barbante. Leva para a mãe. A mãe ri e lhe ensinar a fazer nós. Ele conclui que o importante não é nem o botão nem o barbante, mas esse espaço lúdico que se ensina sem que se fale sobre ele. Na Escola da Ponte o mais importante que se ensina é esse espaço. Nas nossas escolas: salas separadas -- o que se ensina é que a vida é cheia de espaços estanques;; turmas separadas e hierarquizadas -- o que se ensina é que a vida é feita de grupos sociais separados, uns em cima dos outros. Conseqüência prática: a competição entre as turmas, competição que chega à violência (os trotes!). Saberes ministrados em tempos definidos, um após o outro: o que se ensina é que os saberes são compartimentos estanques (e depois reclamam que os alunos não conseguem integrar o conhecimento. Apelam então para a "transdisciplinaridade", para corrigir o estrago feito. O que me faz lembrar um filme de O Gordo e o Magro. Ainda falo sobre o tal filme, Queijo Suíço...). Ah! Uma vez cometido o erro arquitetônico, o espírito da escola já está determinado! Mas nem arquitetos nem técnicos da educação sabem disso...Escola da Ponte: um único espaço, partilhado por todos, sem separação por turmas, sem campainhas anunciando o fim de uma disciplina e o início da outra. A lição social: todos partilhamos de um mesmo mundo. Pequenos e grandes são companheiros numa mesma aventura. Todos se ajudam. Não hácompetição. Há cooperação. Ao ritmo da vida: os saberes da vida não seguem programas. É preciso ouvir os "miúdos", para saber o que eles sentem e pensam. É preciso ouvir os "graúdos", para saber o que eles sentem e pensam. São as crianças que estabelecem as regras de convivência: a necessidade do silêncio, do trabalho não perturbado, de se ouvir música enquanto trabalham. São as crianças que estabelecem os mecanismos para lidar com aqueles que se recusam a obedecer às regras. Pois o espaço da escola tem de ser como o espaço do jogo:o jogo, para ser divertido e fazer sentido, tem de ter regras. Já imaginaram um jogode vôlei em que cada jogador pode fazer o que quiser? A vida social depende de que cada um abra mão da sua vontade, naquilo em que ela se choca com a vontade coletiva. E assim vão as crianças aprendendo as regras da convivência democrática, sem que elas constem de um programa...Minha cabeça está coçando com o sonho de fazer uma escola parecida... Você matricularia seu filho numa escola assim? Mande sua resposta com suas razões para rubem@correionet.com.br -- estou curioso! Mas, para fazer essa escola, tenho de resolver primeiro um problema: como é que o graxo coloca o primeiro graveto para construir o seu ninho?

José Pacheco e A Escola da Ponte III - b

A Escola da Ponte
Rubem AlvesImaginar não faz mal. Pois imagine que você é uma mãe das antigas. E sua filha vai se casar. Mãe responsável que você é, você a chama e lhe diz: "Minha filha, você vai se casar. Desejo que seu casamento seja durável. Casamento durável depende do amor. E você nada sabe sobre as artimanhas do amor. O que você está sentindo agora não é amor;; é paixão. Paixão é fogo de palha. Acaba logo. Casamento não se sustenta com fogo que acaba logo. Vou lhe ensinar o segredo do amor permanente, o fogo que não se apaga nunca. Você deve aprender o segredo do fogo que faz o coração do seu marido arder, no dia a dia. Pois bem, saiba que o caminho para o coração de um homem passa pelo estômago. O casamento não se sustenta com o fogo da cama. Ele se sustenta com o fogo da mesa. Vou lhe dar o presente mais precioso, o "Livro de Dona Benta", centenas de receitas. Mas não só isso, vou lhe ensinar todas as receitas desse livro maravilhoso." Ditas essas palavras você, mãe, dá início a um programa de culinária, uma receita depois da outra, na ordem certa. Cada dia sua filha deve aprender uma receita e, uma vez por mês, você faz uma avaliação da aprendizagem. Ela deve ser capaz de repetir as receitas. É claro que isso que eu disse é uma tonteria. Ninguém ensina a cozinhar assim. Não é possível saber todas as receitas. Por que ter de saber todas as receitas, se elas estão escritas no livro de receitas? A gente aprende uma receita quando fica com vontade de experimentar aquele prato nunca dantes experimentado. O ato de aprender acontece em resposta a um desejo. "Quero fazer, amanhã, uma "vaca atolada"." Como é que se faz uma "vaca atolada", se nunca fiz? É só procurar no livro de receitas, sob o título "vaca atolada". A gente lê e aprende porque vai fazer "vaca atolada"... Pois os programas de aprendizagem a que nossas crianças e adolescentes têm de se submeter nas escolas são iguais à aprendizagem de receitas que não vão ser feitas. Receitas aprendidas sem que se vá fazer o prato são logo esquecidas. A memória é um escorredor de macarrão. O escorredor de macarrão existe para deixar passar o que não vai ser usado: passa a água, fica o macarrão. Essa é a razão por que os estudantes esquecem logo o que são forçados a estudar. Não por falta de memória. Mas porque sua memória funciona bem: não sei para que serve;; deixo passar... Na "Escola da Ponte" a aprendizagem acontece a partir de pratos que vão ser preparados e comidos. Por isso as crianças aprendem e têm prazer em aprender. Mas, e o programa? É cumprido? Pergunta tola. É o mesmo que perguntar se a jovem casadoira aprendeu todas as receitas do "Livro de Dona Benta"... É claro que o "Livro de Dona Benta" não é para ser aprendido. Programas não podem ser aprendidos... São logo escorridos. Quando visitei a "Escola da Ponte" o tema quente era a descoberta do Brasil e tudo o mais que a cercava. As crianças estavam fascinadas com os feitos dos navegadores seus antepassados nessa aventura, mais ousada que a viagem dos astronautas à lua. Imagine agora que algumas crianças tenham ficado curiosas diante do assombro tecnológico que tornou os descobrimentos possíveis, as caravelas. Organizam-se num grupo para estudá-las. Um diretor de escola rigoroso e cumpridor dos seus deveres torceria o nariz. "O tema "caravelas" não consta de nenhum programa nem aqui e nem em nenhum outro lugar do mundo", ele diria. E concluiria: "Não constando de nenhum programa não deve ser objeto de estudo. Perda de tempo. Não vai cair no vestibular." Acontece que uma caravela é um objeto no qual estão entrelaçadas as mais variadas ciências. As caravelas são um laboratório de física. Parece que a caravela brasileira, construída para comemorar o descobrimento, teve de retornar ao ancoradouro, por perigo de emborcar. Um famoso vaso de guerra sueco, o Wasa, se não me engano do século XVI, virou e afundou depois de navegar por não mais que 400 metros. Retirado do fundo do mar há cerca de 25 anos, ele pode ser visto hoje num museu de Estocolmo. O que havia de errado com o Wasa e a caravela brasileira? O que havia de errado tem, em física, o nome de "centro de gravidade". O "centro de gravidade" estava no lugar errado. O tal centro de gravidade é o que explica por que os bonequinhos chamados João Teimoso" não caem nunca! A regra é: para não emborcar, o centro de gravidade do navio deve estar abaixo da linha do mar. Essa é a razão por que os navios, frequentemente, têm necessidade de um lastro - um peso que faz com que o centro de gravidade se desloque para mais baixo. "Se o centro de gravidade estiver fora do lugar, o navio vira e afunda. Os estudantes aprendem, em física, como parte do programa abstrato que têm de aprender, uma regra chamada do "paralelogramo" - regra de composição de forças. Duas forças incidindo sobre um ponto, uma delas F1, a outra F2, cada uma numa direção diferente. Para onde se movimenta o objeto sobre o qual incidem? Nem na direção de F1, nem na direção de F2. Diz essa regra que o objeto vai se movimentar numa direção que se determina pela construção de um "paralelogramo". É o que se chama de "resultante". Os alunos aprendem a resolver o problema no papel mas não sabem para que ele serve na vida. E o aprendido escorre pelos furos do "escorredor de macarrão"... Pois é essa regra que explica, teoricamente, o mistério de um barco que navega numa direção contrária à do vento. Se o barco estivesse à mercê do vento ele só navegaria na direção em que o vento sopra, situação essa que tornaria a navegação impossível. Quem se aventuraria a navegar num barco que só navega na direção do vento e não na direção que se deseja? Mas os navegadores descobriram que, com o auxílio de uma outra força, de direção distinta da direção do vento, é possível fazer com que o barco navegue na direção que se deseja. E é essa a função do leme. O leme, pela resistência da água, cria uma outra força que, colocada no ângulo adequado, produz a direção de navegação desejada. Os alunos aprenderiam melhor se, ao invés de gráficos geométricos, eles fosse instruídos na arte da navegação. Da física passamos à história, a influência de Veneza, dominadora do Mediterrâneo com seus barcos, sobre a tecnologia lusitana de construção de caravelas. Da história para a astronomia, a ciência da orientação pelas estrelas. O astrolábio. A bússola. Daí, para esses assombros simbólicos chamados mapas - que só fazem sentido para o navegador se ele conhecer a arte de se orientar, a direção do norte, mesmo quando nada pode ser visto, a não ser o oceano que o cerca por todos os lados. ( Olhando para a lua, de noite, você é capaz de dizer a direção do sol?). Dos mapas para a literatura, a "Carta de Pero Vaz de Caminha", a poesia de Camões, a poesia de Fernando Pessoa: "Ó mar salgado, quando do seu sal são lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos quantas mães choraram, quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador tem de passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu." Aceitemos um fato simples: um programa cumprido, dado pelo professor do princípio ao fim, é só cumprido formalmente. Programa cumprido não é programa aprendido " mesmo que os alunos tenham passado nos exames. Os exames são feitos enquanto a água ainda não acabou de se escoar pelo escorredor de macarrão. Esse é o destino de toda ciência que não é aprendida a partir da experiência: o esquecimento. Quanto à ciência que se aprende a partir da vida, ela não é esquecida nunca. A vida é o único programa que merece ser seguido.

José Pacheco e A Escola da Ponte III

A Escola da Ponte
Rubem Alves

Contei sobre a escola com sempre sonhei, sem imaginar que pudesse existir. Mas existia, em Portugal...Quando a vi, fiquei alegre e repeti, para ela, o que Fernando Pessoa havia dito para uma mulher amada: "Quando te vi, amei-te já muito antes..."Gente de boa memória jamais entenderá aquela escola. Para entender é preciso esquecer quase tudo o que sabemos. A sabedoria precisa de esquecimento. Esquecer é livrar-se dos jeitos de ser que se sedimentaram em nós, e que nos levam a crer que as coisas têm de ser do jeito como são. Não. Não é preciso que as coisas continuem a ser do jeito como sempre foram. Como são e têm sido as escolas? Que nos diz a memória? A imagem: uma casa, várias salas, crianças separadas em grupos chamados "turmas". Nas salas os professores ensinam saberes. Toca uma campainha. Terminou o tempo da aula. Os professores saem. Outros entram. Começa uma nova aula. Novos saberes são ensinados. O que é que os professores estão fazendo? Estão cumprindo um "programa". "Programa" é um cardápio de saberes organizados em sequência lógica, estabelecido por uma autoridade superior invisível, que nunca está com as crianças. Os saberes dos cardápio "programa" não são "respostas" às perguntas que as crianças fazem. Por isso as crianças não entendem por que têm de aprender o que lhes está sendo ensinado. Nunca vi uma criança questionar a aprendizagem do falar. Uma criancinha de 8 meses já está doidinha para aprender a falar. Ele vê os grandes falando entre si, falando com elas, sentem que falar é uma coisa divertida e útil, e logo começam a ensaiar a fala, por conta própria. Fazem de conta que estão falando. Balbuciam. Brincam com os sons. E quando conseguem falar a primeira palavra, sentem a alegria dos que a cercam. E vão aprendendo, sem que ninguém lhes diga que elas têm de aprender a falar e sem que o misterioso processo de ensino e aprendizagem da fala esteja submetido a um programa estabelecido por autoridades invisíveis. Elas aprendem a falar porque o falar é parte da vida. Nunca ninguém me disse que eu deveria aprender a descascar laranjas. Aprendi porque via o meu pai descascando laranjas com uma mestria ímpar, sem arrebentar a casca e sem ferir a laranja, e eu queria fazer aquilo que ele fazia. Aprendi sem que me fosse ensinado. A arte de descascar laranjas não se encontra em programas de escola. O corpo tem uma precisa filosofia de aprendizagem: ele aprende os saberes que o ajudam a resolver os problemas com que está se defrontando. Os programas são uma violência que se faz com o jeito que o corpo tem de aprender. Não admira que as crianças e adolescentes se revoltem contra aquilo que os programas os obrigam a aprender. Ainda ontem uma amiga me dizia que sua filha, de 10 anos, lhe dizia: "Mãe, por que tenho de ir à escola? As coisas que tenho de aprender não servem para nada. Que me adianta saber o que significa "oxítona"? Prá que serve esta palavra?" A menina sabia mais que aqueles que fizeram os programas. Vamos começar do começo. Imagine o homem primitivo, exposto à chuva, ao frio, ao vento, ao sol. O corpo sofre. O sofrimento faz pensar.: "Preciso de abrigo", ele diz.. Aí, forçada pelo sofrimento, a inteligência entra em ação. Pensa para deixar de sofrer. Pensando, conclui: "Uma caverna seria um bom abrigo contra a chuva, o frio, o vento, o sol..." Instruidos pela inteligência os homens procuram uma caverna e passam a morar nela. Resolvido o sofrimento, a inteligência volta a dormir. Mas aí, forçados ou pela fome ou por um grupo armado que lhes toma a caverna, eles são forçados a se mudar para uma planície onde não há cavernas. O corpo volta a sofrer. O sofrimento acorda a inteligência e faz com que ela trabalhe de novo. A solução original não serve mais: não há cavernas. A inteligência pensa e conclui: "É preciso construir uma coisa que faça às vezes de caverna. Essa coisa tem de ter um teto, para proteger do sol e da chuva. Tem de ter paredes, para proteger do vento e do frio.Com que se pode fazer um teto?" A inteligência se põe então a procurar um material que sirva para fazer o teto. Folhas de palmeira? Capim? Pedaços de pau? Mas o teto não flutua no ar. Tem de haver algo que o sustente. Paus fincados? Sim. Mas para fincar um pau é preciso descobrir uma ferramenta para cortar o pau. Depois, uma ferramenta para fazer o buraco na terra. E assim vai a inteligência, inventando ferramentas e técnicas, à medida em que o corpo se defronta com necessidades práticas. A inteligência, entre os esquimós, jamais pensaria uma casa de pau-a-pique. Entre eles não há nem madeira e nem barro. Produziu o iglu. E a inteligência do homem que vive na floresta jamais pensaria um iglu - porque nas florestas não há gelo. Produziu a casa de pau-a-pique. A inteligência é essencialmente prática. Está a serviço da vida. Um exercício fascinante a se fazer com as crianças seria provocá-las para que elas imaginassem o nascimento dos vários objetos que existem numa casa. Todos os objetos, os mais humildes, têm uma história para contar. Que necessidade fez com que se inventassem panelas, facas, vassouras, o fósforo, a lâmpada, as garrafas, o fio dental?... Quais poderiam ter sido os passos da inteligência, no processo de inventá-los? Quem é capaz de, na fantasia, reconstruir a história da invenção desses objetos, fica mais inteligente.Depois de inventados, eles não precisam ser inventados de novo. Quem inventou passa a possuir a receita para a sua fabricação. E é assim que as gerações mais velhas passam para seus filhos as receitas de técnicas que tornam possível a sobrevivência. Esse é o seu mais valioso testamento: um saber que torna possível viver. As gerações mais novas, assim, são poupadas do trabalho de inventar tudo de novo. E os jovens aprendem com alegria as lições dos mais velhos: porque suas lições os fazem participantes do processo de vida que une a todos. A aprendizagem da linguagem se dá de forma tão eficaz porque a linguagem torna a criança um membro do grupo: ela participa da conversa, fala e os outros ouvem, ri das coisas engraçadas que se dizem. O mesmo pode ser dito da aprendizagem de técnicas: o indiozinho que aprende a fabricar e a usar o arco e a flecha, a construir canoas e a pescar, a andar sem se perder na floresta, a construir ocas, está se tornando num membro do seu grupo, reconhecido por suas habilidades e por sua contribuiçao à sobrevivência da tribo. O que ele aprende e sabe, faz sentido. Ele sabe o uso dos seus saberes. ( A menininha não sabia o uso da palavra "oxítona". Nem eu. Sei o que ela quer dizer. Não sei para que serve. Quando eu escrevo nunca penso em "oxitona". Ninguém que fale a língua, por ignorar o sentido de "oxítona", vai falar "cáfe", ao invés de café, ou "chúle", ao invés de "chulé"... A palavra "oxítona" não me ensina a falar melhor. É, portanto, inútil....)Disse, numa outra crônica, que quero escola retrógrada. Retrógrado quer dizer "que vai para trás". Quero uma escola que vá mais para trás dos "programas" científica e abstratamente elaborados e impostos. Uma escola que compreenda como os saberes são gerados e nascem. Uma escola em que o saber vá nascendo das perguntas que o corpo faz. Uma escola em que o ponto de referência não seja o programa oficial a ser cumprido (inutilmente!), mas o corpo da criança que vive, admira, se encanta, se espanta, pergunta, enfia o dedo, prova com a boca, erra, se machuca, brinca. Uma escola que seja iluminada pelo brilho dos inícios.Mas, repentinamente, desfaz-se o encanto da perda da memória e nos lembramos da pergunta: "Mas, e o programa? Ele é cumprido?"Depois eu respondo.